Duetos : 

O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C/Trilho-do-Pensamento)

 
- Não me importo minimamente se queres ou não comprar a minha verdade. Ela não está a venda pois é gratuita. Quanto a mim, compro a tua pelo que achas justo vender. Minha matemática permite criar valor de qualquer valor, e sei que o valor gerado pela partilha do teu tesouro comigo, será indiscutivelmente maior que o valor que terei de pagar por ele. Por isso, podes levar de mim tudo que considerares precioso, e em troca, posso até ficar com teu lixo. Saberás tu que minhas jóias para mim não valem nada e teu lixo é fortuna?

- Na imprecisão onde aporto as minhas dúvidas, estarás sempre presente como uma realidade omnisciente. Será a primeira entre todas as verdades gravadas no meu modo de ver as súmulas de todos os eventos que meus olhos organizam à roda do meu pensar consciente. As ideias formam-se em fila na contagem de todos os somatórios onde encaixo a minha imundice terrena. Não te posso vender o que não podes ter, a não ser que queiras viajar por todos os pontos onde o meu corpo descarrega as vicissitudes contraditórias de um eu, em emergente estado de euforia pelos tesouros que farás dele. Fazer dos nossos encontros, um modo de eleger a verdade dos meus olhos, é considerar que há tesouros exilados e simplesmente esperam.

- O valor do pão, que sobra das mesas onde sobra pão, é indiscutivelmente diferente do valor do pão nas bocas que sentem fome. Viajar por teus pontos é para mim corrigir a miopia da minha visão. Se quiseres aceitar, deixa-me então olhar-te como teu espelho te olha, meu reflexo fará com que parte do meu caminho se complete. Assim, arrancarei de ti os tesouros exilados que desconheces e a tua riqueza aumentará ao veres que os terás sempre como sobra.

- Considerando que aqui se fala de alimento, encontro-me em estado de absolvição pelo que meus olhos assimilam. Se por um lado, há um considerando sobre o valor que cada um atribui aos seus pertences, por outro, há uma esquadria em pé de guerra pelo que se pensa doar. Se vos tiver aos dois dentro de uma uniforme parelha, então os meus olhos serão, não um reflexo a coexistir com o vosso mundo, mas uma inflexão onde sempre os encontro. Juntos dar-se-ão o direito de existir para nosso bem maior, quando manifestarmos o desejo de querer ser um, a iniciar do zero.



Trilho-Do-Pensamento/Epifania/Ainafipe


Resulto de um modo de dizer as coisas, simples e belas, e tu és o meu guia, o meu assunto do dia, para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos…
Epifania & Ainafipe

 
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Epifania
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 07/10/2010 20:28  Atualizado: 07/10/2010 20:28
Colaborador
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Mensagens: 7238
 Re: O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C...
gostei de ler, epifania/ainapife.gostei de vos ouvir por dentro.

beijo,
alex


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/10/2010 21:15  Atualizado: 07/10/2010 21:15
 Re: O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C...


Canta o Adriano :

"Nessa praça onde tu passas
Tão sem preço como preço
Que o vento teria a morte
Se o vento tivesso preço."

Canta a Maria Guinot :

"e troco a minha vida
por um dia de ilusão
e troco a minha vida
por um dia de ilusão"

Canta o Zeca:

"Bendita seja a paz
Bendita sejas tu
Benditos os peixes do azul"

e ... finalmente ... Jorge De Sena :

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram."

Abraços e beijos


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/10/2010 09:25  Atualizado: 10/10/2010 09:26
 Re: O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C...
Um trio fantástico. A particularidade de ser o convidado a iniciar o texto, o que leva a autora e o seu reflexo a uma dualidade criativa. Adorei a participação do Trilho-Do-Pensamento, para mim uma autentica revelação. As ideias magistrais que faz fluir em todo dialogo demonstra bem a qualidade deste poeta.

Parabéns ao Trio. O espelho como sempre fenomenal.

Beijo azul