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A morte não manda recado

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
Um grito surdo,
no infarto matutino,
é a morte anunciando
mais um passageiro

No comboio da transição
para um estado ignorado
embora nos cultos celebrado
renascimento, ressurreição

Ou aguardar a prestação
das contas no juízo final
mas, que importa afinal?
se a morte vem, sem nenhum sinal?

Na dor que consome a todos
na impotência diante do inevitável desfecho
brotam diversos sentimentos
gritos abafados, choros incontidos

Hoje vi passar bem próximo
esta cena da dramática partida
de minha sogra, uma pessoa muito humana
que dizia que temia sofrer neste momento

Todavia, parecia tão serena
estirada no sofá de sua casa
como tirando uma breve soneca
mas, se preparando pra vida eterna

Adeus, orações, flores,
ornamentam e perfumam o corpo guerreiro
que lutou pra cuidar de cinco filhos
e outros tantos netos, com amor e devoção.

Nesta hora da partida
a melhor palavra é muitas vezes
o abraço, o gesto solidário
pra aqueles que seguem a jornada.

Para Cyrene que parte
que seu espírito liberto
do fiel corpo físico
e das ligações inda terrenas,

segurando nas mãos de anjos
possa alcançar sem medo
os portais de um renascimento
de um reencontro com sua própria origem.

A Terra fica para trás,
um escola de grande aprendizado
de experiências, lutas, vitórias, derrotas,
mas, sobretudo de transformar a dor em amor.

A morte não manda recado,
é verdade, o corpo físico padece,
Mas, a vida sempre envia sinais,
de que é infinita e espiritual.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 5 de outubro de 2010, refletindo sobre a transição de Cyrene, uma pessoa muito especial, a miha querida sogra.
 
Autor
AjAraujo
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