Cinza o tempo...
Negra a noite... E os meus olhos.
Minh’alma chora como as nuvens lá fora...
Sinto frio...
Frio está meu coração de dores antigas.
Meu tempo interior confunde-se com o tempo lá fora...
Que dia é hoje?
Onde estou que não me respondes mais?
Não escutas mais os clamores do meu coração?
Acaso não nos entendemos mais?
Sinto frio...
Faz-se noite em mim.
Sinto o vento frio que sopra de ti...
E que invade-me nos dias em que mais me sinto só.
Em que tempo posso encontrar-te?
Em que lugar reside tudo o que nasce de nós?
Acaso trancas e levas consigo a chave?
Sinto frio...
Minhas mãos cálidas procuram as tuas.
Onde estás?
Por que não posso mais perceber o teu calor?
Por que não conseguimos mais nos transpor?
Por que a verdade faz mensão de ausentar-se?
Por que nossa aquarela está querendo desbotar?
Onde colocamos as tintas... Os pincéis?
Onde paramos?
Sinto frio...
Os sentimentos pequenos do mundo fazem-me chorar.
Ausência de arrogância – não sou melhor...
E chego a sentir a dor do existir-se pequeno.
Insensatez... Embriaguez...
Do próprio veneno se morre... E se mata.
Melhor seria nunca existir...
Se tivesse que exercer a vida com pequenez.
Leva-me... Pega-me pelas mãos e me conduz...
Conduz-me aos nossos mais lindos lugares - momentos.
Aquece-me... Acompanha-me e não me deixes só.
Não deixes que eu suma de mim mesma.
Voltar é sempre tão difícil... Doído...
Enxuga meus prantos... Põe-me em teu colo...
Refaz essa tela de cores tristes...
Pega os pincéis... As tinta de diversas cores...
E faz para mim um outro tempo...
Um outro lugar...
E leva-me para dentro de ti.
Karla Mello
abril/2010
karla.melo66@hotmail.com"Nao tenho ambições nem desejos. Ser poeta nao e uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)