"TERMOS DE COMPARAÇÃO",Zulmira Ribeiro Tavares
"(...)
A avestruz é um bicho-raro.
O poeta uma ávis-trote.
(...)"
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de lado nenhum:
ângulo recto da boca suja
-palavra desmaiada e nua.
mordem línguas
os dentes brancos
e o que nos urja
o que nos surja
aos olhos
doentes
distorcidos,
de-mentes,
francos.
as aves,por amarelas que sejam,
dizem,
não têm dentes,
na sua enorme ,pequena,estranha
lucidez mentida.
a flacidez das penas na saída,
sem saída pairam.
vida sem vida
voa ,à toa
em asas inúteis de avestruz.
tempestade,ciclone,clarão
escuro.
não pertencer,ser tudo
o que seduz,
porque seduz.
lastros e rastos tão gastos
de se ver (in)clara-mente
e ninguém dizer
finalmente
por outras tantas palavras
cabras verdades
castas
dos intuitos
que não têm.
explodem
macabras
as vias
da expressão .
torrente de sangue,
afluxo
ao corpo inexistente
que se espalha.
se há já o gesto
o olhar
o navio
o mar
o fio
porquê o poeta, então?
espanta-se ele mesmo em espanto
dos que se espantam em vê-lo
espanta-se tanto,
sem se espantar porém
ao escrevê-lo,
se o é.
sê-lo
em aves que não comem,saltam,
quebram braços,recusam.
plumas saídas dos dedos
onde nem os há,
nas aves.
caves
cabeça escondida,
mas não em buracos na terra,
em espaços.
e na boca a pá:
dura escava
fere,berra,retira
impensáveis danos
improváveis anos de vida
ída,
presente,
sentida
sequer havida
em aparência.
e depois do muro
a correria da viagem
os outros nomes das coisas
as incontornáveis escolhas
a potência que dita
a saca rolhas
as fluentes
obrigatórias
lentes.
as oratórias.
tudo come a avestruz.
nada, o poeta.
e no entanto,
nada recusa
a não ser comer
o que lhe dão
em pré-formato.
está mudo
quem o acusa
quem o escusa
quem o estuda
quem o não lê
quem o abusa
quem o não vê
e porquê?
parece claro:
a aves-truz
é um bicho raro
que o poeta
qual ávis-trote
segue.
cruz mendes