Certo dia chuvoso... Caiu de lá de cima um anjo. Ele tinha duas asas pequenas, porém notáveis; tinha os olhos castanhos e cabelos encaracolados. Um anjo lindo! Seu rosto oval e ligeiramente rosado, seu nariz empinado e fino, sua boca avermelhada... Aspectos nítidos de um verdadeiro anjo.
No dia seguinte, ensolarado, entupido de pássaros e flores coloridas. O desconhecido anjo perfeito, aparentemente; andava sobre as gramas, a sorrir e a chorar, confuso com o seu inesperado teletransporte. Surgiu então, um velho homem, de bengalas, de cabelos e barbas brancas; que avistou um lindo ser a chorar e a sorrir, sem pensar no que fazer, o velho aproximou-se da perfeita criatura indecifrável...
" - Seria um homem ou uma mulher? " Pensou ele.
Independente do que fosse, o velhinho perguntou-lhe:
- Olá, está tudo bem com você? Estranho o que estou vendo agora. Eu nunca presenciei alguém chorando e sorrindo ao mesmo tempo. E nunca fiquei confuso como estou agora, não sei se você é homem ou mulher. Desculpe-me, mas... Como se chama?
O anjo espantado com as palavras do velho, abaixou a cabeça envergonhado e respondeu:
- Sempre estou bem, e não sei porque eu sorrio e choro, ao mesmo tempo. Eu acho que respondi ao senhor, duas complicadas perguntas. Mas as últimas duas, estão difíceis, porque eu as desconheço.
O velho sem entender absolutamente nada, paralisou os olhos na face delicada do ser indecifrável, e pensou:
" - Que rosto delicado "
O anjo logo respondeu-lhe:
- Obrigado, o senhor é muito gentil.
O velho espantado e muito surpreso, disse ao anjo:
- O que é isso?? Como adivinhou o que veio em meus pensamentos? Você é alguma espécie de vidente? Estou tremendo as pernas!
O anjo lhe falou:
- Não tenha medo, meu senhor. Eu sou apenas um anjo, e não sei o que estou fazendo aqui embaixo... Bom, eu acho que tive culpa...
O velho com os olhos paralisados, disse:
- Anh??? Um anjo?! Eu pensei que havia visto de tudo nesse mundo; mas ver um anjo e conversando comigo naturalmente; eu jamais pensei que isso fosse acontecer... Mas, sim... Me conte, que culpa foi essa?
O anjo disse:
- Sabe, é que eu havia entrado em um departamento de desejos, lá no céu... Então, haviam vários botões de desejos, mas... Só poderia apertar quem fosse autorizado por Deus. Mas, pensei... Não custaria nada, se eu fosse apertar um botãozinho de olhos fechados. Apertei e depois ví o que estava escrito " Caminho sem nome "... Parei aqui. E quando menos espero, comecei a " sentir "... Exatamente por isso que o senhor me viu sorrindo e chorando... Mas, antes de chegar aqui, eu nunca havia chorado. É, eu sei... Eu fui o responsável por isso.
O velho com lágrimas nos olhos, disse-lhe:
- Fico triste em saber o quanto se arrepende de ter feito o que você fez...
O anjo franziu a testa, e disse:
- Meu senhor, eu desobedeci as ordens do todo poderoso.
O velho pensou, e disse:
- Por um lado, você pode tentar viver a vida aqui na terra... E apesar de tudo que temos aqui, você pode se acostumar. E melhor ainda quando você... Aliás, deixa que você descubra isso sozinho. Por falar em sozinho, eu estou notando que você agora tem um sexo definível... E você é um rapaz! Venha comigo, e vamos nos sentar... Gostaria muito de fazer algo para ajudar você.
O anjo, com um imenso sorriso no rosto, resolveu segui-lo. E já não chorava mais.
Passaram pela imensa cidade, vários carros em movimento, bicicletas encostadas... Crianças alegres, outras tristes jogadas e abandonadas.
O velho olhou diretamente nos olhos do anjo. E disse:
- Está vendo? O nosso ar sendo poluído, crianças sem abrigo. E ainda existem outras coisas piores, como assassinato e tráfico de drogas. Mas, isso você irá observar com o tempo. Fique tranquilo, pois ainda assim existem coisas boas. Como a amizade, o sabor das comidas, frutas, doces... E muitas outras coisas, que só com o tempo, você conseguirá sentir.
O anjo entusiasmado, já havia esquecido um pouco de seu arrependimento. E continuou a observar.
O velho o hospedou, dando-lhe as boas vindas.
Dois dias depois, ainda sem provar um alimento. O anjo sobrevivia, as asas cada vez menores... E aos poucos sentindo cheiro e dor. Seus pensamentos, já não eram os mesmos... A única vontade dele no momento, era aprender a viver.
Sua aparência era jovem, sua idade era indecifrável... Com o tempo foi sentindo a necessidade de se alimentar, sentia-se fraco. Foi então, que ele resolveu sair sozinho, pegou alguns trocados que o velhinho havia lhe dado, caso precisasse por alguma emergência. Mas, como ele não sabia o que era de comer em casa, resolveu sair sozinho, enquanto o velho estava distraído regando seu jardim. A verdade, é que ele estava sentindo a necessidade de se virar sozinho.
No caminho, ele viu várias pessoas com lanches, crianças com doces, pipocas... Ele prestou bastante atenção onde vendia essas coisas, que as pessoas colocavam na boca e mastigava com o maior gosto e desejo. Primeiro ele viu um carrinho de algodão doce, encostado em um banco da praça, onde haviam umas 3 crianças na fila. Ele resolveu esperar. E quando chegou a vez dele, ele direcionou o dedo, á cor do algodão, (como todas as crianças que ele havia visto) e pediu branco. Ele sentou-se em um dos pequenos bancos da praça, de frente para um pequeno rio. E abriu o pacote de algodão doce, e ficou pensando:
" - O gosto deste doce será o mesmo sabor de uma amizade? Ou terá o mesmo sabor de drogas e assassinato? ". O anjo lembrou das palavras do velho, antes de pensar. Depois, ele não se conteve, fechou os olhos e deu a sua primeira mordida.
Após ter provado, abriu os olhos rapidamente... Olhou para o pacote de algodão e disse:
- Que sabor de amizade! Hmmm, muito gostoso. Espero que as outras coisas, sejam mais saborosas o quanto este. Hmmm, que delicioso. Mas, ainda me sinto enfraquecido, o que será que devo comer para me sentir forte. Vou andar mais um pouco, e procurar a observar melhor.
O anjo saiu andando, ainda se deliciando com o resto do algodão doce. Parou na frente de uma lanchonete, onde estava uma fila de pessoas de todas as idades, o cheiro o atraiu, e ele como estava com muita fome, entrou na fila. E imaginando o sabor em sua boca, através do cheiro.
Ao esperar bastante tempo, e ainda o céu escuro. Era a vez dele, e direcionou o dedo, para uma figura no cardápio, que era um hamburguer. E poucos minutos ele saiu do local, e voltou para o pequeno banco da praça para experimentar o tão esperado hamburguer. Com sua primeira mordida, ele se surpreendeu, como poderia ser tão suculento aquilo, e porque ele sentia tamanha vontade de devorar a cada vez mais. Seria fome? Ou desejo? Ele não sabia o que sentia, e depois de comer tudo, foi para casa contar ao velho como foi o seu passeio.
O velho espantado, com a demora do anjo. Foi logo perguntando:
- Conte-me como foi? Gostou de sair sozinho? Não sente fome? Você precisa comer, pois passou muitos dias sem colocar nada no estômago. Você agora está fazendo parte da vida humana.
O anjo respoudeu:
- Sim, eu gostei muito do passeio, e não se preocupe, eu já comi algo no caminho. Mas, senhor... Me explique uma coisa, o algodão doce tem sabor de amizade? Porque eu lembro que o senhor me disse que existiam coisas boas, e citou a amizade, então... Como o algodão tem um sabor bom, pensei na amizade.
O velho falou:
- Meu jovem, a amizade não tem gosto... Você apenas sente ela em tua alma, em seus sentimentos... Dentro de seu coração. Não se preocupe. Um dia você encontrará.
O anjo pensou e disse:
- Certo, então um dia sentirei uma amizade. E... Senhor, ficarei sozinho por toda vida?
O velho respondeu:
- Não, não meu jovem. Você terá ainda um amor. E não me faça mais perguntas por hoje, pois está muito tarde, e amanhã terei que acordar cedo para plantar o restante das rosas.
O anjo pensativo, foi se deitar. E não tirava a palavra amor de sua cabeça.
" - O que será amor? ". E logo adormeceu.