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O ninho que não havia

 
Tags:  conto verdadeiro  
 
- Sabes, hoje encontrei um ninho de melro, com três ovos deste tamanho - disse-lhe o avô cruzando as pontas dos dedos indicadores, para lhe dar uma ideia do quão pequeninos eles eram.
- A sério avô?! - perguntou-lhe a menina encantada, de olhos arregalados e brilhantes, quase não cabendo em si de contente.
- Sim. E amanhã, logo de manhãzinha, se quiseres, levo-te lá e mostro-te o ninho que está bem escondido num buraco da parede da nossa quelhada(*) do "covão".
A menina quase não dormiu nessa noite, tal era a emoção que lhe invadia o ser e lhe subia pelo interior do peito acima, fazendo com que se sentisse a mais afortunada de todas as crianças que conhecia. Afinal o seu avô tinha-lhe confiado um segredo, que, agora, só eles dois sabiam e em breve iria poder ver com os seus próprios olhos aquilo que nunca até ali tinha visto, nos seus ainda tenros cinco anos de vida.
No dia seguinte, porventura ainda o galo nem teria cantado e já ela tinha dado um pulo da cama para fora, prontinha a acompanhar o avô aquele tal sítio que só ele sabia.
Estranhou o silêncio da casa bem como a ausência de todos. Mas não tardou muito a saber ao que se devia; o seu avô tinha morrido nessa madrugada. Deu-lhe um ataque a caminho da "desprezos", para onde se dirigia como fazia todos os dias por via de ir tratar das ovelhas que o esperavam ansiosas e de barriga vazia, após metade de um dia e uma noite inteirinha fechadas na escuridão do curral.
Encontrou-o um vizinho, estendido no chão, quase a chegar à "miséria".
Correu ao sítio onde o avô lhe disse que estava o ninho e vasculhou cada um dos buracos da parede. Mas nem sinal de ninho algum com ovos daquele tamanho. Desolada voltou para casa e a tristeza agigantou-se mais ainda, pois para além de já não ter avô, não encontrou o ninho nem pôde ver os ovos que lá estavam dentro como tanto desejava.
Talvez nem fosse verdade, disse-lhe a mãe mais tarde. Não. Não podia ser! O avô não lhe iria mentir só para lhe agradar na véspera de morrer.
Nunca o soube...


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(*)quelhada é o nome dado a uma pequena parcela de terra de cultivo.


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/10/2010 00:35  Atualizado: 02/10/2010 00:35
 Re: O ninho que não havia
Um segredo bem guardado que levou consigo. Mas esse avô deixou boas memorias á sua neta. Saberás que o avo não mentiu somente não teve tempo de revelar.

Um texto muito terno que gostei de ler. As tuas riquezas são fruto das boas heranças deixadas.

Adorei ler Cleo e precisava de ler algo assim

Obrigada!

Beijo azul

Enviado por Tópico
Branca
Publicado: 02/10/2010 00:45  Atualizado: 02/10/2010 00:45
Colaborador
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Localidade: Brasil
Mensagens: 3024
 Re: O ninho que não havia
Cleo....
Você me deixou muito sentida com esta história. Ficou uma dúvida, se o ninho existia ou não, se bem que acho que o avô não tinha como costume mentir, mas foi uma pena...
Gostei de ler, mexeu comigo.
beijo.

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 02/10/2010 00:54  Atualizado: 02/10/2010 00:54
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: O ninho que não havia
Minhas amigas, a vida é assim mesmo.
Possui mistérios que nunca nos serão revelados...
Guardo até hoje esta história no meu coração.
Relembro-a com o carinho e a doçura da infância.

Muito obrigado!

Beijos