O Reizinho, rapaz bem parecido e apossado por causas nobres, ultimamente vive num dilema constante, não é que o seu dedo mindinho esqueceu-se que é o mais pequenino entre os demais.
Reizinho já tentou de tudo, primeiro começou por deitar as mãos aos parcos cabelos no centro da cabeça, ele deu voltas e mais voltas, aos tristes filamentos, mas as ideias coitadas, teimaram em encaminhá-lo, sempre para o mesmo lado, aquele, em que o eu que não sou eu, se recusa a reconhecer o dedo mindinho, como o mais pequeno.
Uma certa vez Reizinho falou alto e em bom tom.
- Não me levam a melhor, é preferível ser odiado e visível, do que querido e permanecer no anonimato.
Já que o dedo mindinho não lhe dá descanso, o melhor é servir-se dele de alguma maneira.
Reizinho puxou da velha sebenta, aquela que o mestre escola lhe deu, no dia do exame da quarta classe. Folheou uma a uma as sebentas páginas, de tanto serem folheadas. Quase no fim da velha sebenta, reizinho encontrou o que procurava, um desenho a carvão da sua mão direita, pulou de alegria, ali estava a prova de que o dedo mindinho, em tempos se tinha portado bem.
Reizinho puxou de uma cadeira almofadada, ultimamente tudo lhe dói, desde a parte mais alta no centro da cabeça, passando pelo fundo das costas e terminando no dedo mindinho do pé esquerdo. Porque, Reizinho aqui há uns tempos atrás tinha conseguido domar, os dedos dos pés, e convenceu-os que eram todos do mesmo tamanho.
Estava Reizinho sentado, ia para duas horas, por entre as mãos agora cansadas, pendia a velha sebenta.
Parece que tudo está contra si, no ultimo minuto antes de se finar, Reizinho pula da cadeira, espalma a velha sebenta no centro da mesa oval, da casa de jantar.
Finalmente fez-se luz, por entre os filamentos dos cabelos rebentados, pela emoção de saber pensar, saíam o que pareciam pequenas estrelas a luzir. Nada mais era, do que partículas de pele, arrancadas com garra, pelo desgraçado do dedo mindinho, da mão direita.
Ignorando a irritação provocada pelo esgatanhar, do dedo mindinho, Reizinho coloca com força, a sua mão papuda, em cima do desenho a carvão, da sua mão direita, na velha sebenta.
Pasme-se quem quiser, não é que depois de tanto pensar, como haveria de dar volta ao seu dedo mindinho, que teimava em ser do tamanho dos outros, o desgraçado tinha crescido tanto, que só o dedo mindinho era do tamanho da mão, desenhada na velha sebenta, que o mestre escola, lhe tinha dado no dia do exame da quarta classe.
Será que depois desta tentativa, o Reizinho descobre, que os dedos da mão, embora tenham o mesmo dono, são todos diferentes...
Antónia Ruivo
Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.
Duas caras da mesma moeda:
Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...