Ai de mim, pobre viajante dos teus sonhos...
Que de sonhar-te tanto te pertenço tanto
E me confundes tu... Donde termino eu...
E donde começa, em mim, tua existência.
Que não conduzo mais, sequer, meu pranto
Que brota dos meus olhos inquietação...
Num misto de amor, medo e desejo.
Que me atormentas e que exalas de mim...
Que contorces em mim...
E desdizes minhas verdades mais antigas.
Ai de mim, que por querer-te sempre e tanto
Não mais conduzo minhas mãos, minha boca...
meus recantos mais íntimos.
Todos clamam ardentemente por ti.
Por tuas palavras que me desconsertam...
Por tuas palavras sempre tão certas de mim.
Pois que és capaz de falar do que sinto... Entre a carne e a alma.
Como um leitor que abre um livro só seu...
Coisa tua que sou...
Lido, manuseado... Centenas de vezes apenas por ti.
Pois que tu o abres...
E encontras exatamente a parte que desejavas encontrar.
Onde o acaso perde o nome.
O acaso santifica seu próprio nome..
Onde, por vezes, pagãos... Chama que faz gemer.
Onde, por vezes, solidão... Chama que faz chorar.
E espalhados numa tela fria... Nós.
Sem teto... Sem carinho... Sem cobertas... Sem razão.
Ai de mim, que entrego-me a ti qual instrumento...
Guardado em vestes de veludo vermelho...
Esperando-te sempre... Igual noiva ansiosa...
Para emitir a mais linda melodia.
O mundo pararia para ouví-la... Estou certa.
E o nosso amor inundaria o mundo.
E eu teria vida... Em consonância com o tocar das tuas mãos.
Com o sopro que vem de tua boca...
E que pousa em meus ouvidos com ares de tortura... E devagar..
Pois que só há vida em mim em teu pertencimento.
Então... Ouso pedir-te ardentemente... Docemente...
Conduz-me... Tocas-me... Por um instante de eternidade.
Karla Mello
27/out/2009
karla.melo66@hotmail.com"Nao tenho ambições nem desejos. Ser poeta nao e uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)