Passeando pelos caminhos já trilhados,
Revendo as pegadas deixadas na estrada,
As marcas fincadas em cada esquina,
Repensando as dúvidas e certezas havidas,
Revivo palmo a palmo todo pedaço de chão,
Da exata forma que me reconheço no espelho.
Nas encruzilhadas onde escolhi destinos,
Agora já conheço o futuro que escolhi,
Repasso cada passo, cada resquício da dúvida,
Reconheço cada pedra que o tempo me atirou,
E sei dos cortes, das dores e da sangria já atada,
E das mágoas que mastiguei e lancei ao vento.
Quisera que o filme já roto que assisto agora,
Mostrassem somente as imagens que prefiro,
Somente os risos, as glórias, os regalos e o gozo,
Dos prazeres que degustei e com que me deleitei,
Sem esse gosto amargo dos desacertos e desventuras,
Das atitudes incertas dos tortos caminhos escolhidos.
Quisera que a tela que espelha essa viagem no tempo,
Projetasse as esquinas e encruzilhadas do porvir,
E setas indicassem o sentido do arbítrio e juízo ideal,
Que evitassem arrependimentos, recomeço e pesar,
Assim como uma receita da salada da vida perfeita,
Com cores, aromas, cheiros e gostos só de prazeres.
Agora vou passear pelo futuro, caminho em trevas,
Vou continuar tateando nos corrimões da vida,
Agora, calejado pelo relho das atitudes impensadas,
A cautela será minha guia nas curvas do caminho,
Evitarei pressa nos labirintos, currais dos precipitados,
Buscarei sombras e braços para aconchegar o cansaço.
E assim irei caminhando, passeando pela vida afora,
Na mochila presa às costas todos os amores conquistados,
Sem lamentar aqueles que se perderam nos vendavais,
No peito o conforto das raízes fincadas nos ideais,
No coração a certeza da ausência de toda mágoa,
E nas mãos a bandeira dos valores que me norteiam.