Chuva…
Está a chover,
Mas eu não sinto
As gotas tocarem em mim.
É como se não existisse,
Como se a vida
Apenas de mentira se tratasse…
Vejo os caminhos alagados;
Cobertos de lama.
O alcatrão da estrada
Os ladrilhos dos prédios encharcados
E água em pequenas poças…
Na calçada,
Os casais de estrangeiros ricos
Abrem os guarda-chuvas,
De cores tão exóticas.
E eu na rua
Sem chapéu nenhum!
Sem medo do trovão,
Como a criança da janela.
Fechou os olhos,
Palpita-lhe o coração…
E quem me dera ser eu ela!
Olhar o mundo a passar,
Ver lá longe a lua;
E o céu aos poucos a caindo
E eu aqui sorrindo;
Aos estrangeiros da rua…
Também eu já tive sonhos;
Foram com a chuva.
Levou-os p'ra longe;
Esses meus saber sonhar!
Caíram nas calhas da rua
Foram pelos esgotos
E saíram no mar…
Também eu fui marinheiro
No meu barco feito de papel!
E depois fui valente…
Era um guerreiro;
Pintado com a ponta de um pincel.
Porque eu tão longe que estava!
Nesse quadro que ninguém pintou;
Era por ti que procurava…
Mas não te soube achar
Nesse sonho que a chuva levou
Para dentro desse grande mar;
Onde eu fui marinheiro!
Mais um trovão;
E eu desperto!
Estou à chuva
Bate-me rápido o coração
Tão inquieto;
Abrigado na janela…
(Porque eu também sou a criança que vejo nela!)
Volto p'ra cama;
Fecho o bloco de desenhos.
Apago a luz;
Digo adeus aos estrangeiros estranhos
E vou dormir…
(E sem eu saber;
Desenhei um marinheiro;
Que encontrou na ponta de um pincel
Esboçado um guerreiro.
Estavam os dois na rua
Olhando um homem à chuva;
Que estava dentro de uma janela
A desenhar numa tela;
Uma criança dormindo…
Tão em paz!
Como a chuva que cai cá fora.)