Espelho…
Já ocupavas cá quando encontrei-o.
Tempo…
Quantas faces te olharam de frente a te questionar?
Como num solicitar de explicações acerca do que viam…
Do que não acompanhavam… não percebiam… e não compreendiam.
Penso na tua aflição a explicar em tua voz muda…
Tempo… tempo...!
Compadeço-me de ti… espelho.
Quantos não te chegaram a chorar… dores, amores, saudades…?
Mantenhas-te em silêncio… suplico-te.
Sou apenas mais uma a contar-te segredos.
Segredos contados entre choros e risos dramáticos – cena – contracenamos eu e tu.
São tantas caras e tantas bocas e tantos gemidos de dor… de dor?
Percebo… Roubas minh’alma e morro cada dia um pouco.
Então… cumpres a tua sina…
Fotografas-me em tua memória e zombas de mim.
Percebes… Estou certa que sim.
A cada dia que recorro a ti… mais uma fenda… segredos.
Fendas – face…
Fendas da alma…
Fendas na boca… que não conseguem desdizer sobre o que não dizer.
Fendas nos olhos… venda - não quero ver…
Fendas…
São mesmo minhas ou apenas tua maldade do que desejas mostrar-me?
Impiedoso e verdadeiro espelho… frio.
Não desdenhas de mim.
Deixa-me cá… quieta… a fitar a mim e a ti.
E, sobretudo… sobre tudo.
Deixa-me pensar… escolher entre sorrir e chorar.
Escolher o que te apresentar de mim… hoje.
Espelho do canto de meu quarto…
Espelho do canto de minha alma.
Karla Mello
Julho/2010
karla.melo66@hotmail.com"Nao tenho ambições nem desejos. Ser poeta nao e uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)