a.
O que eu busco não é um lugar
mas um ponto de partida.
Da nuvem madura
espero o relâmpago
da pobreza duma palavra
a sabedoria.
b.
Pastoreio o rebanho das nuvens,
que o vento indiferentemente junta ou dispersa.
Partilho com a encosta as longas horas imóveis da espera.
c.
Por detrás da janela tingida por uma luz
errante, falar, tal como um lume – enquanto neva
sobre a casa, ou o metal exaure nossas vidas truncadas.
d.
Quem da terra natal me falasse
falar-me-ia dum vazio
que nem sequer me é pessoal.
Penumbrosa origem acordando somente esta palavra
vós – aqui desprendidamente lançada.
Velha como um abismo –
ausente como um alto cimo
e.
Toda a noite pintando e repintando esta porta
que nunca se fecha…
Toda a noite, até que os nervos,liquefeitos, se tornam na própria tinta.
Lendo de ponta a ponta as linhas sem direção
– esta mão – que só o meu passado evocam.
Próxima cura, se vieres – contigo
eu farei a loucura real.
Philip Dennis, em "Eclogues", traduzido por Nicolau Saião.