Maria mãe,
Mulher,
Sorriso rasgado
Jantar preparado
Sofrimento e dor
Num triste passado
Mulher dedicada
Sempre atarefada
De serviço em dia.
A noite já cai,
O medo atormenta
não reages, choras
Gritos comoventes
Perturbam o sono
Dos mais inocentes.
A noite é dia
O sono desperta
Maria mulher,
Só dorme em alerta.
Maria mãe,
Infeliz em dar
Num parto de dor,
Desejado filho
Para o seu senhor.
Frustração em ver
A menina triste.
Sempre em sobressalto
Como viria a ser.
Domingo de festa
Um dia feliz.
Linhos e bordados
Talheres trabalhados,
Pratos bem temperados.
A canja fumega,
Cabritos assados,
Gostos e sabores
De tempos passados.
Na mesa está tudo,
Tudo preparado
Maria servil
Tudo aprimorado.
Doces paladares
Que a infância trás,
Menina com medo
Nunca é capaz,
Nunca é capaz
De ser o que querem,
De fazer igual
Ao que dela esperam
O dia é de festa
O dia é feliz
O fogo crepita
Na lareira e diz
Que o calor humano
É farsa afinal
Depressa se apaga
E volta ao normal.