desviei o meus olhos da cinzenta calada paisagem natural.
e desviei os meus olhos do colorido berrante artificial das montras da cidade.
levei-os rua abaixo,pela mão.e fixei-me no caminho.
como quem leva dois filhos à escola ainda distante,levei-os.
na esquina,um gelado,pelo prazer e alívio do calor.um assoar do nariz.um atrasar do passo,tendo em conta o cansaço das suas pequenas pernas.os olhos têm pernas. pequenas.uma palavra de atenção.os olhos ouvem.uma recomendação.um carinho.os olhos sentem.um ralhete.uma distracção.os olhos perdem-se.uma exigência.um ensinamento.os olhos aprendem.uma piada.uma gargalhada.os olhos riem-se.um pensamento.uma invenção.os olhos criam.
um brilho de alegria, contrabalançando todas as tristezas e as tantas preocupações.todos os medos.
uma ponta de dureza requerida pela coragem que a luta da vida implica.
uma lágrima ao seu canto,pela constatação de todo o mal.
uma faísca de raiva afastando as ameaças e os inimigos.
um grande mapa em parte desconhecido.
um grande livro para se ir lendo ,que nunca acaba.
outro quem sabe,para se ir escrevendo.
pelo caminho,caminhamos.
tantas vezes em desepero.
certezas e incertezas.a passos dados.
escolhas de rotas.planos gerais,instintos,direcções tomadas.
pensamentos,emoções e valores.
supresas,erros,tombos,recomeços e descobertas.
levei os meus olhos pela vida fora.às vezes atenta.outras tantas distraída.
procurando não me esquecer do essencial.
e levá-los-ei sempre.
até ser hora. dirão eles .de dormir.
cruz mendes