Bati a porta sem olhar para traz,
Tomei a rua jurando não voltar jamais,
Rompendo a fantasia, o sonho, o ideal.
Remoí toda paixão, mastiguei os hábitos,
Vomitei toda a história e me fui para sempre,
Lapidando as horas, que não passam,
E esse tempo lento, quase inerte,
Vagando sobre minha cabeça,
Pesando no peito, sufocando o alma.
Jurei não olhar para traz, convicto,
E as lembranças, o que faço com elas?
O que faço quando o coração acalmar,
Quando sossegar a ânsia do ânimo
Quando a saudade apertar, a noite chegar?
O que eu farei amanhã,
Quando a manhã chegar
E não tiver tua voz, para me acordar,
Não tiver teu calor, quando despertar,
Não tiver esses braços, para me apertar,
Não tiver o teu corpo, para me aninhar,
O que eu faço?
O que eu farei amanhã?
Quando mesmo sem querer eu olhar para traz
E for inevitável chorar tua falta,
Amargar a saudade a me atormentar,
Reviver teu abraço e essa boca tão minha,
Sentir o teu cheiro em cada lugar.
O que eu faço agora com a porta fechada,
Com esse orgulho atrevido, incoerente, mordaz,
E essa saudade antecipada, a dor do porvir,
A lembrança macabra que se forma e já machuca.
O que eu faço agora?