Contos : 

Lola Parte II

 
Lola existe. Está no meu coração.
O Mundo torna-se perigoso.
Altas muralhas são construidas, reinos inteiros são fechados, reina a violencia.
Eu sigo o meu caminho, o encontro mantém-se de pé.

O Sol brilha.
Os sons surgem por entre os ramos acompanhando a caminhada.
As árvores tornam-se iguais a si próprias. Lola é igual a si mesma.
Não tem clones.
Para além de estranha, entranha-se por entre o tudo que existe. O segredo perde o medo, deixa-se revelar. E rebola, bate d'ali e d'acolá, não pára, ganha vida própria e enche-se de energia.
O segredo é:
Segredo.
O medo é:
Passado.

Tento encontrar Lola na imaginação, mas já nada funciona. A imaginação já não é minha, é igual a um telemóvel, comandada à distancia. E se não é por Lola, torna-se numa peça morta.
Anseio ainda mais pelo real, pela hora marcada, pelo nosso destino. E sei afinal que não sou eu quem caminha, é Lola quem vem em minha direcção, é ela quem traz o segredo, é ela o próprio segredo.
O encontro mantém-se de pé. Não por minha simples vontade, mas por vontade simples de Lola. Porque esse é o seu maior desejo, e não existe cá quem recuse um só único a quem lá está.

As árvores afastam-se, dão-me espaço.
O caminho forma caminhos.
Os meus pés assentam firmes no chão, este é o meu local, é aqui que aguardo por ela. As raizes perfuram o chão e tentam agarrar-se com força. O tronco endireita-se o mais possivel para que eu cresça em direcção ao céu. Os ramos tentam tocar outras árvores.
Mas à medida que vou crescendo, que todos crescem, todos se afastam ainda mais de mim. Não por falta de espaço, mas para que o espaço seja o meu Espaço. Para que o tempo seja o meu Tempo. Para que eu seja o meu Eu. Para que Lola e Eu nos encontremos sós. Só nós dois, sem que outros nos vejam juntos. sem que outros especulem sobre tal encontro.

A noite caiu, tropeçou no dia e estatelou-se no céu.
Procuro uma estrela por entre as nuvens. Não a encontro.
Observo o meu calendário e reparo que adormeci durante dois dias.
Observo a mochila.
Obsevo o que é meu.
O nada.
O vazio surge na espera e dá-me esperança. Rompe o Presente e foge em duas direcções. Tento seguir uma delas e não me atrevo, tento a outra e não dá.
Quem me dera tornar a seguir caminho.
Não quero ficar parado à espera do destino. O destino está marcado, não está parado. O encontro mantém-se, pode ser antecipado.

As ideias apoderam-se de mim, os ideais chamam-me ao sofrimento e eu solto um grito de guerra. Pego o vento pelas folhas e susurro-lhe um pedido. Deslargo-o. O vento ouve tudo à primeira e conhece todo o espaço existente.
A resposta é pronta, o ponteiro dos segundos dá menos de duas voltas ao circulo.
Tudo é imaginação.
O feitiço quebra-se e eu caio empurrado pelo vento. Sou homem de novo.
Estalo uns ossos, estico as pernas, os músculos e preparo-me para a viagem.
Do feitiço sobraram cinco frutos, pego neles e coloco-os na mochila.
Cansado de descansar sigo noite dentro.
Os passos vão passando sem que pense neles. A Lua dá lugar ao Sol, o Sol dá lugar à Lua. O encontro desencontra-se. O interesse não é meu, é falso.

A falsidade.
Imagino a desimaginação. Desconfio a confiança no emaranhado pensamento.
Liberto o medo e ofereço-o.
Quem o quer?

O medo.
É Lola quem o aceita.
A cabeça dá cambalhotas, as imagens são produzidas, a imaginação está viva e vive dentro de mim.
Imagino Lola. Só tem um defeito de fabrico, querer ser a própria imaginação. Querer tornar a imaginação real, querer ser real.

A promessa.
Quebro o silencio em pânico e desafio a sorte. desafio qualquer Lola que se atravesse no meu caminho. Puxo o meu truque na manga e jogo a cartada final.
Uma a uma nenhuma me toca, nenhuma me ama verdadeiramente, todas me modificam e não param de me modificar, nenhuma gosta de mim pelo que sou, mas sim pelo que gostavam que fosse, pelo que gostavam que fizesse, pelo que gostavam que me torná-se.
Sempre o mesmo com menos tempo para mim.

O orgulho.
Abatido em pleno voo, desintegra-se.
Indignado pelo que sou. Sentindo-me como um objecto, uma peça em tabuleiro de xadez, distancio-me perplexo dos factos ocorridos e regresso ao meu estado em solidão.
Ocorre-me a felicidade disfarçada.

O Amor...

 
Autor
franciscopeixoto
 
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