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antóniocasado | Publicado: 18/09/2010 16:49 Atualizado: 18/09/2010 16:49 |
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Re: DIVAGANDO NA FALTA DE INSPIRAÇÃO
Ola
Um poeta escreveu num soneto um dia: "Só não posso evadir-me deste desalento, de não ter dado nada, e ir de mãos vazias". No momento em que escrevo isto não me recordo do nome de um dos mais belos poemas que li em 1973 e que tem sido o arauto de uma verdade que expurgo de mim e pretendo expurgar dos outros. São versos de uma realidade crua. Nem a pretensiosa ideia de "vamos unir-nos" em prol de algo sobressai daqueles versos entregues à vida como à forca, numa sem vontade delirante, trágica, quase cómica. O universo de quem escreve é o livro. Ainda hoje choro os senhorios que me roubaram mais de 15.000 livros, a minha biblioteca pessoal, acumulada ao longo da minha vida, apenas porque o dinheiro permitiu o roubo e a sua escassez não permitiu reaver o que era minha pertença. O seu texto até parece retórica! Mas é de uma realidade que faz doer. Se partilho das suas ideias? Integralmente! O que penso do seu texto? Subscrevo-o. Muito mais teria a acrescentar pois ficou tanto de tanto por dizer... Desde o papel dos poetas e escritores na sociedade, ao papel da sociedade em relação a eles. Para não me alongar lembro apenas um episódio acontecido numa escola do Norte onde fui convidado para fazer uma palestra sobre poesia. Uma aluna acercou-se de mim e cumprimentou. Retribui. Depois disse-me que queria fazer uma pergunta. Escutei-a atentamente: - Porque é tão raro os poetas visitarem as escolas? - Porque é raro a educação e o ensino gostarem de poetas e escritores intrometediços... Rimo-nos porque brinquei. - Posso dar-lhe um beijo? - Volveu de novo a miúda. - Sim... Claro. Porquê? - Porque é tão raro estar na presença de quem vive a vida a sonhar. Calei-me. Estava tudo dito. Daqui poderemos retirar o que quisermos. Fico-me por nada, que é precisamente o que tenho nas mãos, para além da visão de um amor universal que eu próprio não sei definir. Um grande abraço. antóniocasado |