Escondo-me nas florestas densas, cobertas de verde aragem,
aninhando-me, em reverência sacra, perante o nascer de mais uma alvorada na encosta abrupta da montanha leve.
Só mais um dia, dizem-me.
Só mais um dia e nenhum mais.
O parto está completo e renasci das cinzas.
Sonhos que se levam, que se deixam a meio,
sonos sem descanso à vista e terras de negrume onde meu navio aporta a âncora e deixa a carga pesada.
Areias que se beijam, nos pés molhados, cansados e torpes.
Beijos que se depositam como bênçãos nas mãos tão magras.
Pianos que se tocam, dolorosos, em queixume, quase grito.
Molhadas lágrimas que se soltam dos meus lábios,
e pendem, desequilibradas, nas falésias do meu rosto.
Arestas que não me deixam dormir pela brutidão da dor.
Calado estou na esfera fechada de mim, no meu quarto recheado de fantasmas que me acordam nas noites em suores melados, acompanhados de solidão e saudade.