Sem saber de onde vinha
Chegou, assombrado com tantas luzes
Eram tantas as visões que,
Abismado, se timidou no beco da rua
Ali, sozinho e escondido da noite
Enrolava-se no frio que lhe tremia
E a noite por ser noite não brilhou
E deu lugar ao dia
Que num breve e cínico açoite
Pereceu, dando lugar à noite
E o pobre ali sozinho, sim, o tal
Que esquecera o seu caminho
Percebeu que havia o dia
E quando este acordou
Tal pobre, pegou uma correria
Até que depressa chegou
Ao fim do dia
Aos tambores da noite
E aos gritos silenciosos da madrugada
Aqueles que afligem de não dizer nada
Aqueles que atropelam a sua caminhada
E o pobre, determinado,
No beco ficou parado
Era o SENHOR da agonia
O PROPRIETÁRIO da má sorte
O PATRÃO da miséria
Era o pobre, o REI da morte
Sem saber de onde vinha
Do nome vagabundo à sua mercê
Do nome pouco que nem tinha
Pereceu sem saber porquê
poeta_das_ilhas
Sustentação e Reflexões
(Nelson Medeiros)