não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
tentei falar com uma gaivota. andava a voar. parecia-me feliz. mesmo assim disse-lhe que gostava de lhe explicar que também eu descanso no seu mar – respondeu-me não me respondendo. continuou a voar. suponho que é a sua linguagem para me dizer que também é mar – continuou a voar em círculos – eu também falo em círculos. podia falar em linha recta. mas quem me ouviria? apenas as gaivotas. aquelas que vivem do outro lado do oceano – essas como estas voam nos meus olhos. gostam do mar como eu. voam para comunicarem. escrevem com as asas novos caminhos – também eu só sei comunicar assim. voando. sozinho. sem nome. sem rosto e sem ontem. só assim encontro tempo para dizer as coisas que nunca foram ditas – olho para as mãos. e choro. por ver tanta palavra nua resistir a um tempo que já é tempo demais para mim – quero escrever. dizer-vos o que sou. sem que nos vossos olhos posso ver a minha face. não quero ombros. não quero descansar em nenhuma palavra construída para me abrigar. quero voar. escrever. escrever. escrever. quero voar com as minhas gaivotas e dizer-vos que sampaio. sou eu. este que escreve a loucura de nunca saber dizer nada com voz – sampaio. sou eu. assim. sem formas. sem roupa. sem caneta na mão – ainda tenho tanto para vos contar. necessito de voar livre – preso estou eu desde o dia que alguém me perguntou o nome. não sei o que respondi. talvez… que era eu
-sampaio sou eu-