Sim eu sei o que é meu amor negro.
Sim porque eu já senti essa dor.
Sim, também sei sofrer de amor…
A morte passou por mim
E eu cego nem a vi.
Sim, meu amor frio
Porque a morte já te matou a ti.
Sim eu sei o que é.
Sei o que é meter as palavras na boca
Como quem lhas tem por fome.
Sim eu passei ao lado de um rio
De uma água salgada que não corre,
E vi passar corpos em lágrimas molhados
Boiando nesse rio de sangue.
Sim porque eu também sei o que é a guerra
O que é o som surdo de uma bala
Perfurar a carne de quem gostamos.
Sim meu amor de vazio
Porque tu morreste da guerra.
Sim sei o que é uma mãe a gritar em desespero
Do pânico da criança grande que chora de medo.
Sim porque eu estive lá.
Sim também já fui a criança que chora.
Eu corri;
Sim meu amor esquecido,
Eu juro que corri!
Mas não consegui ver o mundo acabar.
Sim porque eu chego sempre tarde demais.
Sim porque o meu relógio
É feito de um tempo parado.
Eu não consegui ver os anjos
Nem o fogo a cair dos céus.
Sim meu amor sem rosto, foi horrível!
Mas ao longe, bem longe daí;
Eu ouvi quem te matou rir.
Quem fez esse mundo teu ruir.
Sim meu amor morto;
Porque eu sei que era ele.
E eu tentei e não consegui evitar
Que de mim o ódio se fez.
Desculpa meu amor sem rosto;
Porque também eu morri.
De matar quem te matou a ti.
Sim meu amor negro fui eu que matei e morri;
Matei e morri de mim.
Matei e morri por ti.
Matei quem te matou a ti e a mim.
Meu amor que morremos nesse espelho:
Sim meu amor;
Esse sublime reflexo meu…
No espelho que eu parti!