Por onde quer que vá, sobre o mar, sobre a terra,
Morador da cidade ou do campo distante,
No côncavo de um vale ou no alto de uma serra,
Sob um clima de gelo ou sob um sol flamante,
Mendigo tenebroso ou Creso rutilante,
Quer se conserve em paz, quer se destrua em guerra,
- O Homem cai a tremer, em qualquer parte, diante
Do mistério que o céu, - trágico abismo, - encerra...
Sempre o céu! sempre o céu! - teto que se ilumina,
No teatro do mundo em que o Homem representa
- Mascarado histrião! - a comédia divina;
Em que o Homem, - pobre ator, cheio de desenganos, -
Das paixões arrostando a terrível tormenta,
Chora, blasfema e ri - há mais de dez mil anos...
Charles Baudelaire (1821-1867), poeta francês. Poema traduzido por Wenceslau de Queiroz.