Era uma vez um mateiro que vivia com a sua modesta família na parte mais ocidental da Europa. Nada de extraordinário, não fosse o caso de ser dono de um cão. De todo o lado acorriam multidões para ver espécimen tão desusado. O caso alimentava na aldeia e fora dela, enorme polémica.
-- Como é que os parcos recursos daquela família podiam continuar a alimentar uma boca que valia por três? As perguntas sucediam-se, mas as respostas tardavam em chegar. O enigma ia crescendo na alma daquelas almas pouco dadas a elaboradas cogitações filosóficas. Os vendedores, que liam nas intervalas o futuro, tinham opinião diferente. O cão era um grande negócio, como aquele lugar jamais lograra produzir. Não propriamente o cão, mas as pessoas que alertadas pelo facto vinham em sua demanda. Era vê-los a botar água na fervura.
Sabemos que o dinheiro não dá a felicidade, mas ajuda muito.
O mateiro, homem de poucas palavras, adensava o enigma, se é que havia algum. A aldeia, encaixada entre duas vertentes montanhosas, era ladeada a sul por uma ribeira, que tanto aldeões como forasteiros aproveitavam para as mais diversas funções. À sombra dos freixos e salgueiros, olhando as águas transparentes da ribeira e comendo uma bucha, os debates mantinham-se tarde adentro, dia a dia mais acalorados. O cão, aparentemente, alheado de toda a controvérsia, parecia não ter a lucidez suficiente para tirar partido de tal situação e como sempre fazia, comia e dormia e nem um breve rosnar se lhe ouvia. Havia também os que pensavam que o animal tinha direito à sua privacidade e sempre que possível zombavam dos incautos forasteiros. Podemos ver neles os precursores dos defensores dos direitos dos animais. Como podemos vislumbrar, nem tudo é negativo nesta história…(1ªparte)
neno