Acontece com bastante frequência, que quando a mulher deixa improvisada e irreparavelmente o homem de que está farta e que já não suporta, tem uma experiência de libertação, por vezes até de regeneração. É como se tivesse voltado a ser jovem, muda o estilo de vestir, cuida do seu corpo, quer atrair e sente-se segura e forte quando se dá conta de que muitos homens, também jovens, se interessam por ela.
Tudo isto é lógico, natural, positivo, porque lhe dá a força para recomeçar de maneira nova, mesmo sem ter logo outro amor que afaste o primeiro e sem precisar dele.
porém, é complicado quando esta ruptura acontece depois de uma longa vida em comum. Então a euforia, o ímpeto inicial não duram muito e podem dar lugar a uma sensação de aridez e vazio.
Que não é saudade, nem desejo de voltar atrás, mas a consciência de uma perda. E nem sequer tem muito que ver com a idade. Há mulheres de cinquenta, sessenta anos que foram solteiras por muito tempo e são serenas, tendo uma vida amorosa e sexual. Não, o misterioso mal-estar de que falávamos provém da quantidade de vida em comum a ser rejeitada, esquecida.
O amor experimentado, as penas, as alegrias e as aflições partilhadas, a experiência com as crianças, as lutas enfrentadas em comum, a ajuda mútua durante as doenças, tudo isto tem de ser rejeitado, esquecido. É um abismo imenso, um vazio que seca, torna áridas as fontes do desejo, os sonhos, da esperança. Apagar, esquecer uma parte tão grande da nossa vida põe em crise a nossa identidade.
Não se deve cortar a nossa vida com uma facada, de maneira má.
A vida é breve, quando te viras para trás e te dás conta de que é muito, muito breve, então gostarias de ter guardado um laço, uma ponte com todas as pessoas que conheceste e amaste.
Claro que nós temos de ser exigentes, intolerantes, para poder fazer novas experiências, crescer, mudar. Mas quanta vida, quanta riqueza perdemos...!!!
DuduMary_09\09\2010