A perda da pessoa amada pela qual estamos perdidamente apaixonados não pode ser comparada com a perda de uma pessoa querida. Nós lembramo-nos das pessoas queridas que perdemos, tentamos revê-las como quando estavam connosco e, ao fazê-lo, embora sofrendo, acalmamos o nosso sofrimento.
Alguns sentem-se ao pé deles.
utros falam mentalmente com elas. Podem lembrá-las porque foram amados, porque, ao evocar o passado, evocam o seu amor.
Pelo contrário, quem foi regeitado não pode lembrar sem sofrer de maneira atroz.
A lembrança reactiva imediatamente a dor, o desespero da recusa.
O enamorado abandonado, por isso, faz qualquer coisa para sepultar no esquecimento o que lhe provocaria apenas sofrimento. Mas o seu pensamento volta inexoravelmente ao passado, lembra-se, apesar de todas as defesas, de que o amor teria sido possivel, aliás deveria ter sido possível. Não pode deixar de pensar que as coisas deveriam ter corrido doutra forma. A lembrança de qualquer coisa que deveria ter sido e não foi. Portanto é um grito que sai do abismo, uma recusa, um protesto, um não. E ao mesmo tempo, uma esperança, uma espera, um pedido. E se a pessoa amada voltar, se disser alguma coisa e demonstrar, embora não amor apaixonado, mas ternura, condifência, doçura erótica, amizade, então aquele amor destroçado pode voltar a acordar, reencontrar, embora timidamente, a palavra e um pouco de paz. Mas só se tiver passado muito tempo, se não arriscar explodir outra vez indo ao encontro de uma derrota.