“Voulez-vous des aphrodisiaques, madame?”
Ouvi e estremeci, enleada pela volúpia dos odores
Que belo corpo másculo, vestido com um djellaba
De cor castanho terra, como as muralhas dos Kasbahs.
Na Medina o bulício é como uma colmeia
Numa incessante azáfama laboriosa de vida,
Mas também muita gente cruzando à deriva,
Rostos do imaginário das mil e uma noites.
Os souks são variados, cada um com o seu mister
Com cheiros penetrantes, como o acre dos couros
A música das palavras que eu não consigo entender
E os ferreiros com a incessante sinfonia dos martelos.
Mais empolgante que ruínas, palácios e museus,
É vaguear na palpitante e esotérica Medina,
Beber um chá de menta, olhando o minarete
E apreciar aquele mundo, tão vivo e perene
Praça Djema el-Fnaa, mestiça, africana e oriental,
Com a algazarra galvanizando toda a minha atenção
Um palco, abraçado pelos actores de uma peça
Em que o guião é escrito pelo fremir da vida.
Estranhas ciências, tantas artes inclassificáveis,
Racionalidades refractárias e insondáveis desígnios
Sentidos telúricos e caleidoscópicas fumaradas
Que invadem todo o espaço que fica em sfumato
Tambores e cornetas repetem as lenga-lengas
Serpentes dançam ao som das flautas berberinas.
Contadores de histórias, videntes e astrólogos
Curandeiros das mordidas de tarântulas e escorpiões.
O crepúsculo está agora no coração dos souks
A luz incendeia as variadas cores das especiarias,
Faísca nos desenhos geométricos dos tapetes
Com as suas histórias épicas ancestrais e eternas.
No imenso emaranhado das ruelas sombrias
Sinto o envolvimento da intimidade do abraço.
Um formigueiro de gente colorida fluiu apressada.
Vultos de um mistério que eu nunca irei conhecer,
Com eles sentei-me à mesa para o jantar ritual
A jovem de olhos negros sensuais, trouxe sorrindo
A água e o sabão na bacia martelada de metal
Depois com a toalha secou-me as mãos com leveza
Antes da comida alguém disse «Bismillah»
E no fim todos disseram «All hamdu Lillah»
Depois os tambores rufaram incendiados
E os corpos se deram frenéticos às danças
Fiquei deitada em almofadas fruindo um fuminho
Estonteada com o saraquitar das ancas e dos seios
Os homens chispando virilidade e desejo latente
Eles e elas expelindo a alegria do prazer ofegante
Foi de grande densidade e exotismo o choque cultural
Uma experiência única cheia de mistérios por desvendar
Depois para sul, passando o Rif e o Muluya - Tiznit,
Eis o Sarah e a verdadeira alma africana do Magreb
Aí ficamos contemplando a imensidão sem limites
As dunas arenosas sucessivas ondulando ao vento
Na aridez desmedida o nosso encontro foi rutilante
E deixou-me em lágrimas de pleno contentamento