Transporto comigo o choro inicial,
lágrimas primeiras, e logo anunciando a partida,
como se fosse o excedente
nascido em hora imprópria, em inadequado lugar.
Nascido ser para não ser exequível vivente.
Apenas um supranumerário!
Que me importa saber da qualidade do choro?
se são de alegria ou de tristeza estas lágrimas?
se são reais ou apenas ficções do meu sofrer?
Sinto apenas o infinito sal, o sal de todos mares
sinto-o a rebolar no meu rosto
por dentro do meu rosto, sangue e plasma do meu corpo.
No lugar do ser deram-me oceanos para alimentar,
no lugar de viver foi lugar de chorar as minhas penas,
e cuidei que era mar, julguei em mim todo o pranto do mundo,
e se entre iguais lugar me não coube, fiz-me mar,
alimento de todas as dores, a culpa de todas as derrotas.
Não!
Não vou chorar sobre o meu pranto, bastante é ele,
imenso e completo em si próprio,
causa e efeito da minha existência.
Redundante foi meu nascimento
porque eu não nasci para nascer, estava tudo completo quando cheguei,
não nasci para nascer, e se mundo já era um equilíbrio perfeito
porquê então meu nascer?
Não nasci para nascer , apenas ser um breve instante de pranto
-pranto por mim e o pranto de quem nunca chorou-
Ser afinal todo o sal do mundo
até ser todas as lágrimas jamais vertidas
de tristeza ou de alegria, talvez até de indiferença,
que eu não sei o que é chorar de indiferença
ou de indiferença choro eu por mim!
Dionísio Dinis