Houve um tempo, no princípio da minha história, em que o mar para mim, era apenas e só uma mera miragem. Apesar das gravuras dos livros que me davam uma visão da forma e da cor, não lhe conhecia o cheiro nem o som. Por isso, imaginava-o na imensidão do horizonte, até onde o olhar não alcançasse mais, para lá dos limites da minha própria imaginação... fechava os olhos e deitava-me então à beirinha da água na areia molhada e entretinha-me a escutar o seu canto de tenor. Qual encantador de sereias, sedutor de ondas indefesas, que, maravilhadas com tamanho encanto lhe ofereciam o seu manto para que nele se embrulhasse no esplendor das marés, vindo-se desfazer por fim, em bolhinhas brancas e salgadas que me salpicavam a pele nua e adormecido num sonho...