Sol chega, invade o meu sonho, torna dia o que é noite. Acorda pessoa! Mais um dia de calor na cidade das Mangueiras, já não tantas, o tempo às arranca pela raiz. Ainda que frondosas, se fragilizam e basta um vento mais assanhado para tombarem. Já tive expectativa frondosa igual, de ver a cidade melhor, com menos problemas, mais limpa e bonita, mas o tempo, o vento, rapidamente passam e ajudados pelo grau extremo de abandono e a contaminação vinda de maus gestores, retiram do meu solo este plantio. Varro um pouco desse pensamento. Varrer. Nunca foi uma cidade das mais limpas, mas nos dias atuais parece ser ainda mais sujinha, alguns que em tese deveriam torná-la mais bucólica, pisoteiam a pouca grama, ferem a bela estampa, arranham, emporcalham. Dispensáveis e temporárias exposições visuais. Dispensáveis odores. Passo em meio a muitas arruaças, alguns larápios arrancam bolsas e carteiras dos distraídos, outros mais ousados, preferem a emoção de seqüestro relâmpago com direito a filmagens e negociações. Seguro bem a minha bolsa e sigo rápida e atentamente. Desses ainda consigo me livrar. De algumas partilhas de cargos, pagamento de dívidas com funções nos mais diversos escalões, disso, infelizmente não escapo. Ou melhor, escapo, fico de fora. Nenhuma parte me cabe nesse latifúndio. Continuo a caminhada, e sem querer dou uma topada, ou será que toparam em mim? As ruas e as praças são ocupadas pelo excedente de pessoas sem casa, sem família, ou de famílias inteiras sem teto, um baque dos piores na nossa consciência. Topo aqui com a falta do dever cumprido, a falta de obrigação, o escárnio à moralidade apregoada. Meu pé já nem dói tanto assim. Alegro-me afinal! Pois trombei em um material de construção de um passeio no meio da rua onde fica localizado o meu prédio e que já foi, sem exageros, feito e refeito, quebrado e reconstruído, reformado uma dezena de vezes. Ainda não chegou aos padrões que o exigente gestor almeja, penso eu. Sentimentos confusos estes de agora. Não sei se é bom ou ruim. Não sei se me animo com o fato do candidato “ficha suja” ter tido a candidatura vetada ou se me entristeço por saber que ele e sua inesgotável fonte de poder talvez venham se aliar à candidata que tenta a reeleição, e possam bancar a vitória da mesma, então serão mais quatro anos de retrocesso. Opa! Quase! Um pouco mais de desatenção (eu e essa mania de andar por ai divagando) e quase entrego a chave do apê para o Pastor de uma das inúmeras casas do Senhor que ficam ao largo do meu reduto, em nome desse sossego espiritual que busco! Quanta inquietação. Melhor chegar logo em casa e nem acessar mais a Internet e/ou ligar a TV. Seria esse o utópico sono dos justos?
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