Que triste é a alegria
Que lhe enche o âmago
E açoita o estômago
Com as farpas que digeria
À sucapa dos olhos gerais.
Envinagrado, o cheiro,
Cresce sempre mais
E envolve-o por inteiro
Bordando-o em ferida.
Nunca se sentiu sozinho,
Era dos que vivia a vida
Comendo-a bocadinho a bocadinho
Sem que olhasse a avisos,
Sem que se detivesse em cuidados
Que lhe pudessem desviar a liberdade.
Fazia-se alegre, a tristeza,
Sempre fina acompanhante de todos os dias
Que ao livrá-lo de mais companhias
Lhe cozia a crueza,
Tão natural à sua raça de rua.
Sem medida, limitava-se a imprecisão
Em passos de alma nua
A colar-se-lhe pela mão,
Amparando as quedas desamparadas
Sobre o alcatrão negro e molhado.
Entre o nascer e o viver
Nunca ninguém o tinha ensinado
Sobre a necessidade de se merecer,
De querer mais do que o que se quer,
De ser mais livre do que se é.
Valdevinoxis
(reescrito)
A boa convivência não é uma questão de tolerância.