Cartas para ti
II
Mesurado tempo. Embutido na palavra e na viagem que no papel se desenha. Haverá alguma forma arcaica, violeta ou tenaz de pintar as letras da saudade? Se a saudade tivesse cor, o uivo seria ácido como a laranja caída nas margens do sonho.
Mesurado sonho. Embutido no inconsciente da mente e na ternura do silêncio da voz opaca que rendilha a noite. Haverá alguma configuração tenebrosa, saliente e crente para avivar as letras da noite? Se a noite fosse um caminho de aventuras esventradas, já perdidas como um limão pálido e doente que morre lentamente no chão do nosso quintal. São tantos, os que morrem lentamente, como os quintais incoerentes que plantam ansiedades desfiguradas, preenchidas de dor, que na noite escondem o sofrimento.
Não há tempo. Não há sonho. Nem tão-pouco palavras!
(Já te disse inúmeras vezes)
Se ousares responder-me, envia pelo mensageiro um pouco de sorte, um tanto de fragmentos de histórias e muitos ventos, quero sentir a tua força e o teu amor.
Não te esqueças do beijo que roubei da boca da última laranja que morreu no sonho do tempo mesurado e afaga-o com esse olhar que a distância carpiu.
Ainda estou perdido no mesmo templo das palavras e sinto o marasmo meio cálido, quase doente, desse limão amargo que roça o trilho. Oiço esperanças. Oiço os movimentos do meu corpo que cavam um estado de ansiedades. Ainda abraço o tempo!
Eduardo Montepuez