Eu senti nada de nada.
Nada de nada;
No meu triste mundo.
Eu olhei e não vi ninguém.
Não vi ninguém no meu mundo.
Não vi ninguém senão a Escuridão.
Não vi nada de nada,
Senão desertos pintados sem cor.
Não vi nada nem ninguém
Nem vi rostos dentro de mim.
Eu não vi génio sem rosto nenhum
Nem criança brincado a rua.
Não vi nada, nada e fiquei cego!
Cego de uma estranha solidão
Que me ardeu nos olhos…
Não+ vi nada de nada
No meu triste mundo.
Não ouvi nada p'ra além do imenso silêncio
Não ouvi nada p'ra além de uma voz calada.
E eu só ouvi silêncios
Que suspiravam ecos nas paredes negras!
Eu ouvi uma grotesca e fria voz
Uma grotesca e fria voz que nada dizia.
Eu ouvi o vento sibilar o meu nome.
Mas não ouvi nada pois estava surdo.
Não ouvi nada senão uma voz a gritar por mim.
Não ouvi nada de nada
No meu triste mundo.
Eu gritei alto por ti
Eu gritei o teu nome e gritei também por mim.
Gritei então nomes que ainda nem sabia
Gritei por socorro e só a minha voz me veio salvar.
Eu gritei por mim,
E sem saber gritei por ti!
Depois gritei-nos ao mesmo tempo.
E era por nós que gritava socorro
Eu gritei e gritei e fiquei sem a minha voz.
Eu fiquei sem voz por tanto gritar
Fiquei sem voz por gritar por uma voz!
Não gritei nada de nada
No meu frio mundo.
Eu cheirei todo o mundo pelo meu nariz.
Eu cheirei uma flor morta de tanto esperar
Eu cheirei e era a morte vinda de mim.
Eu cheirei algo podre e eram as verdades.
O cheiro decrépito e decomposto que eu cheirei,
Vinha do receio que eu tinha;
De ter de cheirar verdades.
Eu cheirei o mundo,
Mas tive medo de me cheirar a mim.
Sei que tive medo porque o cheirei;
Eu cheirei o medo que me cheirava.
Tive medo de me cheirar
Por medo de nunca ter existido.
Eu cheirei nada de nada
No meu frio mundo.
E sem querer eu olhei.
Eu ouvi, eu gritei, eu chorei.
E depois até senti…
Meu Deus! Eu senti!
Eu senti algo que não sei se senti.
Eu senti, eu imaginei, eu pintei;
E depois também escrevi.
Eu escrevi um mundo e pintei ainda mais
E imaginei ainda os infinitos.
Mas não senti nenhum.
Então olhei-me de frente
E quase que me ouvi;
Eu gritava. Eu gritava!
E era por ecos que gritava.
Gritava e era por mim e só por mim.
Gritava por não ter cheiro a flor morta
Mas por cheirar a morte sem flor.
Mas foi então que eu senti. Que me senti.
Frio como era o meu mundo…
Onde eu nunca senti!
Não senti nada de nada
No meu frio mundo.
No meu frio mundo.
Eu não me senti só
Nada de nada só! …
No meu frio mundo;
Tudo de tudo eu senti.
Perdoa-me porque lá do fundo
Eu sei que te menti!