Eram as memórias que a não largavam, que tinha agarradas a si como uma lapa grudada na rocha; o sedimento de uma infância sombria, gorduroso e peganhento a salitrar-lhe as frágeis paredes da alma, a corroer-lhe o ser invisível que lhe habita as profundezas do íntimo onde se guarda o sentimento verdadeiro, aquele que esconde do resto do mundo...
Encontrei-a numa daquelas avenidas chiques da moda, para onde se mudaram as pessoas modernas e onde se passeava aparentemente descontraída, mas bastou um só sopro de brisa vindo dessa outra vida para se deixar cair na inevitável melancolia que lhe assaltou as débeis defesas do castelo de ar que construíra em torno de si para se livrar dos fantasmas que a perseguiam desde o dia em que os relógios pararam e lhe passaram a contar o tempo num ciclo errado, como se, de súbito, tivesse saltado para o interior de um espelho e o seu mundo se tivesse virado ao contrário, passado a estar no lado avesso da vida.