O rádio do carro toca a nossa musica, aquela do tempo que eu e tu éramos nós, sinto saudades, não de ti, sinto saudades de como eu me sentia no tempo que amava-te, tal como apareceste, sumiste da minha vida, tenho ainda o numero do teu telefone, tenho teu endereço de e-mail, mas ignoraste tantas vezes as minhas chamadas e minhas cartas que ficou sempre a promessa de não incomodar-te mais, nunca é cumprida, mais cedo ou mais tarde alguma coisa faz-me tentar entrar em contacto, talvez pelo motivo que apesar de ignorares-me nunca teres dito para que eu não continuasse a tentar, tenho minha ilusão, minha teoria, se está certa ou errada pouco me importa, gosto de manter-te viva em mim, sei que muitas vezes (e se na verdade usar-mos de preciosismo) ninguém tem importância igual para alguém como esse alguém tem para o outro, a importância é sempre relativa, também as palavras pensadas são diferentes das ditas e as ouvidas entendidas de outra forma, não sei o que procuro quando procuro-te em mim, já acordei entretanto em outras camas, já amei outras mulheres, como todas pessoas fui ficando um pouco diferente a cada espaço de tempo, paro o automóvel numa estação de serviço vazia de recordações, tomo o meu café a olhar para a manhã que promete um dia quente, esqueço-me novamente de ti, temporariamente? Quem sabe? Nunca se esquece de alguém definitivamente, podemos esquecer o rosto, o corpo, as palavras, os gestos, podemos esquecer tudo, mas nunca esquecemos alguém que tornou-se parte do que somos, seria como esquecer-se a si próprio, alguém esquece a si próprio? Sim! Sem duvida, quando passa a ser algo diferente do que era como passei a ser quando te amei.