O HOMEM E A MEMÓRIA
AUTOR: Carlos Henrique Rangel
Ao longo de nossas vidas vamos acumulando conhecimentos, objetos, vivências. Viver é adquirir...
Adquirir manias, coisas, sabedoria ...
Perdemos também. Perdemos a inocência e muitas vezes a simplicidade...
Os entes queridos...
Coisas...
Nus ao chegaramos, recebemos nossos primeiros patrimônios: roupas, sapatinhos, brinquedos... Carinho.
Logo aprendemos uma língua para nos comunicarmos com os nossos protetores, uma aquisição maravilhosa.
Aprendemos a gostar dos objetos e espaços que nos cercam: Mamãe, papai, o Quarto, o berço, o travesseiro tão querido, a mamadeira... o bico.
Logo é a rua que nos atrai com suas pessoas diferentes desiguais.
E a praça... A praça, seus brinquedos e suas crianças... Uma extensão da casa.
Vem depois a escola este lugar de conhecimento cheia de novos mistérios, amigos tias...
O nosso quintal cresce e logo vislumbramos a cidade e o parque da cidade, a igreja da cidade, os espaços da cidade.
Assim crescemos. E crescendo vamos nos apropriando de coisas, pessoas, idéias, sentimentos, crenças, desejos, esperanças. Compartilhando com grupos de iguais, ideais iguais.
Somos muitos então: Filho/filha, marido/mulher, pai/mãe, aluno(a),torcedor(a), mineiro, brasileiro, latino, terráqueo... Rótulos sociais.
Elos e mais elos adquiridos com o viver...
Viver é criar patrimônio... Cultural...
O registro do que foi fica na memória... Fotos, diários, cartas...
Os objetos dos que se foram são relíquias a serem guardas com carinho e respeito.
A minha primeira escola.... A Saudade dói no peito ao ver o velho prédio cheio de histórias...
Quando fiz a primeira comunhão... Professora Rita.... A menina loura que amei aos dez anos...
As cadeiras de dupla na escola...
Os bons tempos das matinês no Cinema que virou igreja...
Mamãe me chamando para jantar..
O pegador de lata, rouba bandeira...
Nadar no Córrego... A atividade politicamente incorreta: Caçar passarinho com bodoque...
O Congado passando... Agente acompanhando...
Semana Santa e o pó de café com rosas e serragem no chão para os outros pisarem.
Carnaval ... Uma namorada por noite... Tinha bloco e Baile no clube.
Saudade do Pedrinho e suas palhaçadas. Morreu...
Ainda vou ao velho bairro ver minha casa do passado...
A faculdade não é mais a mesma.
Minha cidade não é a mesma...
Dói ver o tempo passar...Mexendo comigo e com todos. Dói ver as coisas passarem por causa do desrespeito e ganância de alguns.
Passam os sonhos, os ideais, os amigos, os pais... Passamos nós...
Tudo passa... Tudo se transforma...
E qual a nossa tarefa?
Nossa tarefa é evitar que esse passar seja assim tão rápido.
Que esse transformar seja agressiva...
Administrar a transformação sem congelar, sem engessar.
Esse é o nosso papel.
Deixar a herança e ensinar o respeito a essa herança.
Viver é criar patrimônio e preservar é continuar com dignidade.
É crescer com identidade...