Chego a casa devagar… Pelas frestas da janela, o mesmo Sol lá de fora invade o quarto sarapintando-o de luz e cor. O dia é belo, mas adormeço, ao som da cidade, cada vez mais… distante. Sonhei! E sinto-me feliz. Pela primeira vez consigo recordar, ao despertar, os detalhes de um sonho, passo a passo, silhueta a silhueta, enfim tudo. Mas não vou contá-lo a ninguém. Será só meu, muito meu. Acordo no final da tarde. O mesmo Sol, a mesma luz, ficaram ali o dia inteiro a iluminar o meu sonho. Sinto-me carente ao acordar. Assalta-me a lembrança daquela musa encantada do meu sonho. Aquela silhueta esbelta, a expressão profunda do olhar, os cabelos esvoaçando ao vento. E aquelas mãos chamando por mim para me acariciar ou para me ajudar a viver. Fico triste. Enquanto passo as mãos encharcadas em água, pela face, para secar as lágrimas, aquela musa invade a minha imaginação. No meu sonho, ela estava ali, sozinha, no meio de uma gruta colorida com uma única saída. O Sol enchia a gruta, fazia brilhar os seus cabelos e dava-lhe uma expressão meiga e carinhosa ao olhar. A saída parecia simples, no entanto, ela clamava por ajuda. Eu caminho para ela, quando deparo com uma aura de vidro pela qual não consigo passar. Parecia protegê-la. Mas de quê? De quem? Aquela mulher de sonho estava ali, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim. Quem me dera poder adormecer novamente, só para a voltar a ver.