Circula em minha veia este sangue negro,
Negro como era o mar e os navios negreiros
Negreiros carregados de almas, almas de gueto,
Negros cânticos, um ouro negro verdadeiro...
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Eu canto por ti a ideologia da eterna liberdade,
E faço minha apologia a sua identidade de amor
Minha deusa de ébano, negra de pura divindade,
Anjo negro, de asas cintilantes, purpura cor...
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Oxalá é pai, e salve Ogum, Ogunhê!
Ele fez-me negro, como negro é o universo.
As estrelas são luzes, mas o brilho é Ilê Ayê,
E Ilê Ayê é a força de cada palavra destes versos...
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E são versos negros, versos para minha rainha,
A rainha que dança, e no embalo me conduz.
Leva-me ao passado, ao colo de minha madrinha,
Madrinha negra que desencarnou e virou luz...
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Sou negro, e como negro venho a ti reverenciar,
E solto por ti Ilê Ayê, o grito silencioso da flor.
Que nasce Ilê Ayê, com a negritude a triunfar,
A alma crioula, escultura de azeviche talhada de amor...
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Eu sou negro, e negra é a cor da liberdade,
Sou negro como o rio, sou negro como a dor.
Sou negro como o mar, sou negro como a verdade,
Verdades negras, soando ao toque do tambor...
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Viva a vida, escute o que o Ilê Ayê tem a dizer,
São versos negros, da poesia negra imaculada.
A sabedoria nas palavras vem lhe oferecer,
Com letras benditas e preces abençoadas...
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Êpa Babá! Xêuê Babá!, sou filho do rei,
Sou negro e canto, canto para que me possa ouvir.
Sou filho de negro, e como negro não negarei,
Que na flor de sua pele, o Ilê Ayê poderá sentir...