Textos : 

era domingo

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


trago-me às costas desde um tempo em que não me compreendia, sabia apenas que para além da cama que me albergava as dores havia um jardim onde ainda eu ria – era domingo - o sol neste dia. crescia com vozes que nunca ouvia. e dentro das manhãs os passos cresciam por corredores de sonhos – havia gente a passar por um chão ainda estremunhado. as passadeiras enrodilhavam-se apenas pelo som dos novos andares – era domingo – neste dia. o pijama era a última peça a despir. a manhã não podia ter fim – faltava ainda o cheiro de um fogão. assava a diferença. e nas mãos que corriam sempre sobrava uma para me acenar – era domingo – no meu quarto os lençóis brancos imitavam a cor dos meus pensamentos – havia tudo no meu quarto. a macieira no lugar da mesinha de cabeceira. do outro lado. um ramo de laranjeira crescia de dentro da gaveta das meias – no tecto. caiam grinaldas verdes. pingavam gotas de orvalho. a noite tinha acabado. o calor ardia – no lugar da cama o mar. baloiçava-me como se fosse um baloiço. aos pés. o peluche era agora a gaivota. cinzenta. no peito uma mancha branca. as asas cobriam todos os meus sonhos – as lágrimas tombam mortas – hoje estão encerradas num túmulo do soldado desconhecido. mas a minha gaivota. continua a voar. todos os dias vos dá um pedaço de mim. deste. que fala por cada palavra que decepa a razão. deste. que de mãos vazias vos entrega a alma – tratem-na bem – agora tenho que chorar.
 
Autor
sampaiorego
 
Texto
Data
Leituras
864
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 28/08/2010 21:35  Atualizado: 28/08/2010 21:35
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 ao s.
tenho para te dizer coisas tão felizes. como dar as mãos à noite e ir com as estrelas ou esquecer o mundo. tenho para te dizer coisas tão felizes, que rimem com vida. sem choro nenhum. coisas que dadas umas às outras de devolvam as asas. quero ver-te voar. tu sabes. não importa o domingo. importa que queiras. amanhã passarei por cá para assistir ao voo. esta noite penso em magia. uma forma qualquer de te fazer sonhar com algo vivo.

um beijo,
mar.


(sempre aqui.)