São por acaso...
Os versos que escorrem
junto às gotas,
que brincam na vidraça,
na tarde de chuva e ventania do inverno?
Ou seriam...
Os versos que escorrem
junto às lágrimas,
na face marcada, na emoção
ou na dor, sentimento ou desilusão?
Talvez fossem...
Os versos que escorrem
junto ao suor,
no corpo fatigado,
de um dia de trabalho, de luta?
São por acaso...
Os versos que escorrem
junto ao orvalho da manhã,
nas plantas,
que acordam receptivas à luz de um novo dia?
Ou seriam...
Os versos que escorrem
junto ao sangue,
nas veias, artérias ou mangue,
na vida nua, crua e bela?
Talvez fossem...
Os versos que escorrem
junto às aquarelas,na tinta
ou nas telas
nas mãos do artista?
São por acaso...
Os versos que escorrem
junto às ondas que batem nas escarpas,
ou nas praias,na espuma de algas
nos mares, nas marés da existência?
Ou seriam...
Os versos que escorrem
junto às chaminés,feito fumaças,
nas casas, nas fábricas,
no ar poluído que adentra os pulmões?
Talvez fossem...
Os versos que escorrem
junto à diarréia, desesperança
na desnutrição, no abandono
na fome de nossas crianças?
São por acaso...
Os versos que escorrem
junto ao álcool,na fraqueza
que inunda a alma dominada,
onde se aninha o medo e a tristeza?
Ou seriam...
Os versos que escorrem
junto à poeira radioativa,
que o vento inda levanta em Hiroshima,
no câncer, na morte,da guerra que abomina?
Talvez fossem...
Os versos que escorrem
junto ao mofo que revela
aquilo que o tempo não desvela,
onde o poeta testemunha nas páginas amarelas da vida?
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 9/9/02.