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Paixão

 
Já não me dói o corpo, e ainda ontem jurava não sair da cama. Os meus olhos febris, vermelhos, alumiam-se como duas candeias, a chama crepitando, desafiando o vento. Vem, digo-te outra vez, desafiando o meu corpo que jura não querer mais. Sinto o teu corpo chegar, teu cheiro baila nos teus cabelos - desalinhados, lindos; e são já mãos que rolam, bocas coladas, como se a primeira vez fosse agora. Inventamo-nos, como se nunca tivesse havido princípio, e por fim, ofegantes, doridos, extenuados do prazer, olhamo-nos no prazer da espera, de querermos esperar, porque enquanto a paixão viver, haverá sempre recomeço.
Levantas-te da cama, não como nos filmes de classe A, onde vestes sempre a minha camisa, ou te enrolas num lençol fino de cetim. O teu corpo rola magnífico quarto a fora, as tuas coxas enfrentam a penumbra que a janela deixa entrar, e sinto-te em passos pequenos, cansados. Deixo-me ficar, quieto e mudo. Não pergunto onde vais, ou o que irás fazer. A tua nudez é a resposta que já tenho, que irás voltar aos nossos lençóis, e o frio da madrugada te fará procurar o meu corpo para te aqueceres. Grito de longe: - Traz-me um copo de água. Não respondes, apenas vens, teus seios salpicados de gotas de água, do copo cheio em excesso, ou talvez no tropeço da roupa amassada, estendida pelo quarto. Afagas a minha cabeça, quase como de um doente que necessita de ajuda, e dessedento-me em ti. Depois deitas-te, como esperava, procurando-me para te aqueceres, puxando o lençol, e oferecendo tuas costas, tuas coxas, à minha vontade. Quando me mexo, dizes baixinho - pára, vamos ficar quietos, estamos tão bem...
Agarro-te, sem angústias, com o à vontade que a ternura e o carinho me ditam, sinto-te serena, doce. Como dois adolescentes, as nossas mãos brincam, percorrem-se. Murmuro um poema, esperando que a memória não voe, e te possa entregar depois. Quase adormeço, meus lábios embaraçam-se nos teus cabelos, beijam teus ombros, e voltas-te, num movimento lento, deitando teus olhos em mim, sorrindo. Resgatamos os sentidos, como se nunca antes tivessem despertado – Acordamos. E somos corpo incendiado, labirintos de novos gestos inventados, searas de trigo fresco pedindo para ser colhidos, marés de Setembro cheirando a solstício, vagas rebentando em espuma branca, chegando ao areal onde nos amamos. Depois, como em qualquer Abril, derramamo-nos em chuva quente, arrefecendo nossos corpos, permanecendo amantes para o resto desta paixão.



Jorge

 
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JB
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/09/2006 13:18  Atualizado: 15/09/2006 13:18
 Re: Paixão
Olá Jorge como sempre romantico
Um beijo
Conceição

Enviado por Tópico
Daynor
Publicado: 15/09/2006 13:47  Atualizado: 15/09/2006 13:49
Muito Participativo
Usuário desde: 26/04/2006
Localidade: Porto Alegre
Mensagens: 55
 Re: Paixão
E aí tchê! Fiquei feliz em te encontrar aqui também. Tua descrição é fantástica. Dois corpos rendem-se ao calor que eles mesmos criaram...há uma certa magia a aprisionar...há todo um envolvimento, um mistério de sentimentos a aproximar...suave, meigo, puro e louco...Uma loucura que deveria se repetir todos os dias...Minha pontuação prá ti é nota 10!

Enviado por Tópico
Isa
Publicado: 12/10/2006 10:55  Atualizado: 12/10/2006 10:55
Super Participativo
Usuário desde: 25/04/2006
Localidade: Leiria
Mensagens: 168
 Re: Paixão
Amei!

A paixão em sintonia.

beijo

Enviado por Tópico
rosamaria
Publicado: 16/01/2008 18:49  Atualizado: 16/01/2008 18:49
Colaborador
Usuário desde: 10/09/2006
Localidade: Mindelo - Vila do Conde
Mensagens: 1016
 Re: Paixão/para JB
Ola Jorge
Eu bem dizia... as tuas cartas, os teus poemas de amor são uma delícia de ler e reler!!!!!
jinhos
Rosamaria