A voz. Ecoava nas paredes absurdas do meu tímpano e riscava de forma interminável a minha consciência. Mostra-me apenas que o mundo intitulado demente é apenas um portal para algo inantigivel. Tem sido assim, desde tempos remotos de sentimentos enclausurados, e vontades mórbidas radiadas em emoções tempestuosamente absurdas. Silêncios aterradores de algo que em mim há muito já morreu. Lençois de sangue que me cobrem o rosto e lavam a vergonha interior. Líquido que me inunda os membros com os quais caminho sobre os escombros das minhas memórias. Agarro-as e puxo-as para mim, o objectivo é apenas sentir algo agradável. Vêm torturas no lugar de fábulas, e pesadelos em vez de sonhos. Talvez longe, talvez perto (de mais). Talvez a sonhar, talvez acordada. Aqui ou ali. A realidade é muito mais absurda e tenuosa que a minha estupidez interior que gargalha e grosna dentro do meu ser vazio e ignorante de sentir. As poças deram lugar a algo com mais conteúdo e problemático. O líquido inunda-me e pareço afogar-me no meu próprio sabor azedo. Olho em volta e tudo o que vejo é a cor do meu sangue a inundar-me os pulmões pouco racionais e demasiado autónomos. Se os pudesse controlar há muito que estariam secos e cobertos de lágrimas de alguém que sempre lá esteve e me inundou em momentos de realidades puramente ilusivas e sarcásticas. Rio-me e sinto o meu ser estrabordar de aflição. Os risos dão lugar ao devaneio e algo é destruído. A razão. Debato-me, infantilmente. Há muito que a minha realidade me superou e transbordo de malícia pecatória. Atormento e atropelo seres em mim presentes com fantasmas. Mato outros. Ressuscito a esperança. Tiros no escuro que me acabam por atingir e levar a este ponto de debater sem qualquer sentido. Silêncio, a voz torna a cessar...