Hoje vamos derramar o balde pela sala,
Que deixemos escorrer toda história,
Mesmo que alague tudo que vivemos,
Melhor esvaziar o copo e as magoas.
Veremos se esvair como água toldada,
As rusgas e as dores acumuladas na estrada,
Escorrendo diferenças e descaminhos;
Que não choremos mais dissabores.
Então lancemos sobre o tapete molhado,
Só um pouco das tantas pétalas que colhemos,
Houveram flores, aromas, brisa e orvalho,
Que aspiremos também o cheiro desse tempo.
Nessa distância entre os cantos da sala,
Por onde desfilam nossas dispersas vontades,
Já foi tão pequena para caber nossos olhares,
Que não precisavam de tanto espaço.
Olhe para mim, olhe o balde vazio,
O tapete a gente junta e joga ao leu,
Mas que não esparramemos entre nós,
Toda história que cultivamos no tempo.
Não se vá, também não quero ir,
Aqui nessa sala ainda tem lembranças,
Que não foram sonhos, que não foram acaso,
E que revividas justificam um recomeço.