Já nada me prende,
já nada me arrebata,
já nada me faz sonhar,
e no sonho morri,
Preparo as facas,
preparo o ritual,
com carinho por saber,
é este o ultimo dia da minha vida,
coloco as fotografias,
dos queridos e desequeridos,
a acompanhar o momento,
como uma fileira a assistir,
a uma pena de morte sentenciada,
ponho um incenso,
finalmente o meu coração sente-se feliz,
porque vai deixar de ser infeliz,
neste dia que é o ultimo dia,
de dores e guerras,
de sonhos perdidos e macabros,
no ultimo dia da minha vida,
coloco o meu melhor fato,
a musica em repeat do angel gabriel,
as lágrimas correm-me,
de uma alegria profunda.
Desligo os telemoveis,
tranco as portas,
e sorrio...
para mim...
para ti...
e para quem me vir...
Pego na faca,
e corto o pulso esquerdo...
sinto o sangue a sair...
não me doi...
sinto a sua temperatura quente,
a encher-me os braços,
pego na segunda faca...
ainda incolume de cor,
e corto o meu pulso direito...
neste dia...
que é o ultimo dia da minha vida...
fecho os olhos...
e choro...
neste dia...
que é o ultimo dia da minha vida...
solidão tremenda...
solidão vaticinando que não posso cá ficar,
vaticinando que sou mais no de menos,
e que não devia existir,
o meu karma,
de só encontrar,
quem não precisava de ser encontrado,
neste meu karma de amores e desamores,
perdidos e desolados,
agora enterro-os comigo...
neste dia...
que é o ultimo dia...
da minha vida...
e levo-te a ti...
sejas tu quem fores...
do meu passado, presente ou futuro...
onde não te encontrei...
e não te vou encontrar...
pois neste dia de solidão...
é o ultimo dia da minha vida...
sinto as forças a esvairem-se,
os braços a fraquejarem,
doi-me o corpo,
mas sorri a minha alma...
estás quase a partir...
estás quase a voar...
sem a prisão...
do corpo...
da mente...
da vida...
ONDE NÃO PERTENCES.
Alexander the Poet