Você não sabe quantas vezes
As palavras tecem no meu ouvido uma teia de sombra.
Cantarolam em meu intimo um chuva enfurecida
Alagando meus sentidos com lama e entulho.
O tremelicar da minha espinha
Mantém o ritmo alucinado de idéias
E percorre-me um frio que ruboriza a face.
Apenas dói,
Como o rompimento de qualquer etapa,
Como o traumatizante nascimento,
Como as etapas da lapidação.
Carrego tatuado em minha pele o carma
De procurar prisões-
Para ansiar por liberdade.
De inventar doenças-
Para possuir uma cura.
De sangrar o corpo-
Para libertar a alma.
Venero inconscientemente a dor
Alimentando desejos
E sustentando meu ego.
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros