não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
estava para escrever. hoje. mas o dia tinha tanta luz que resolvi fingir que não escrevo – prefiro falar. com esta língua que me sai do fundo da goela e que me morde os lábios para calar – malditos fígados – maldita herança. maldita raça que morre em cada palavra - hoje. não escrevo. tenho um ramo atravessado nos olhos. um ramo bailarino. descabido. um ramo que nasce onde o nada costuma nascer com nome. a barriga das putas prenhes em noites de sevícias culturais – ainda hoje procura o pai – é por isso que alguns ramos escrevem. procuram um pénis. desconfiam da mãe e de todas as artes que colidem com a pequenez da mente – o corpo. esse é água. evapora-se no meio da orvalhada. é lá que transpira. é lá que se torna cidadão do mundo. muda. transmuda-se da única cadeira capaz de suportar o seu querer. a imaginação vagueia pelas putas que nunca conseguiu emprenhar – é viagem dentro de uma mesma viagem – tem um cão que se chama nobel e uma faneca que saltou de uma dorna de vinho – passeia com ela com uma trela feita de poemas – agora quer um gato. diz que já está farto de se masturbar – talvez esta minha mente esteja doente e quem sabe queira apenas ensinar o gato a ler. talvez necessite de palmas – o corpo nunca foi grande. o tempo passa e a corcunda incha – talvez o gato acabe por o fazer feliz – talvez. e um dia os dois comam ratas e apanhe os cacos que a sua mão da masturbação me fez ejacular neste papel que era para ser branco