Era uma menina sozinha descendo pelas ladeiras da cidadezinha do interior, que faz divisa com o estado do Paraná, com apenas 231 anos de emancipação política, de população tranqüila e festeira, cidade fria e aconchegante, terra de tropeiros e estudantes, silenciosa e agitada.
Terra de lua prateada tomada pelo intenso ar gelado.
Seus olhos não viam ninguém e ninguém a via, apenas um gato preto a acompanhava, mais por curiosidade do que afeição.
Ela observava o chão de terra batida e desviava das pedras trazidas pela chuva.
O céu negro dando impressão de extrema melancolia, assim como o semblante trágico no rosto da garota.
O tempo novamente fechara e uma gota de chuva caiu sobre seu rosto, o vento frio lhe dava pavor, junto com a chuva as lagrimas molhavam sua face, como se quisesse abastecer a cidade mais do que a represa Pilão d’Água.
Seus pés descalços, com os sinais visíveis do chinelinho de dedo surrado que ficara esquecido atrás do fogão de lenha. Se não havia proteção para o coração também não necessitavam os pés.
Suas roupas rasgadas e agora molhadas roubavam-lhe a beleza, seus longos cabelos ruivos maltratados com o tempo balançavam com forte vento, seus olhos azuis inundados de lagrimas refletiam seu sofrimento, seus pensamentos voltavam aos fatos inesquecíveis e a raiva em seu rosto era assustadora.
O gato já não a seguia, fugira logo que a chuva começou.
A esperança de que a chuva parasse consumia seu ser.
O desejo de que o sol aquecesse seu corpo gelado era mais forte que nunca.
Com os olhos embaçados ela não podia ver, seus passos cada vez mais lentos...
Seu corpo aos poucos perdia a força, talvez pelo frio, com a chuva e o sofrimento.
Já não sentia total movimento de seus membros, tentava permanecer firme no caminho mas não resistira a lama no chão, sobre o mesmo agora encharcado ela se deitou, não queria ficar ali e se entregar, mas estava fraca, cansada.
Seu corpo agora não se movia apenas um imenso desejo de permanecer viva continuava com ela.
As vielas da adormecida cidade puderam presenciar o som das lagrimas quentes tocando as lajotas de pedra sabão, contrastando com a beleza angelical via-se um corpo inerte no chão.