Não há, porque nunca há nada,
Se o que chega até mim em forma de luz
Manifesta nos poros flamejantes
No olhar perdido e lunar
Na bóia do mar dos sentidos
Nos rochedos batidos pelas ondas
Ou na espuma que vem brindar a areia
Nas algas e nos limos que a enfeitam
Nas urzes altivas no cimo dos rochedos
Expostos ao vento que passa e leva consigo
A alvura da palma da minha mão
Ou o coração
Num barco de recreio de velas enfunadas
Numa nau potente e esbelta
Onde a noite deposita a arca do sentimento
Quando a porta aberta à curiosidade
Enleva as sombras na esplanada do céu
Nas folhas rompidas ao brilho do sol
Na seiva das flores vermelhas
No sangue dos homens que lutam
E aguardam no virar de cada dia
Um pedaço de justiça social repartida por todos
O alento da menina que cruza as ruas
A puerilidade de um mesmo ar morno
Uma cantiga na boca, uma flor no cabelo
Num jardim onde os homens se amem
Num profundo beijo enamorado
Entre juras de amor eterno
Para seguirem depois a rota dos perfumes
De mãos dadas com o futuro que desfila
Participativo e pleno de alegria e esperança…
Não é amor?
António Casado