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morte certa,hora incerta

 
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"morte certa,hora incerta."

Sabes
quando um nome chora
por entre a porta
à hora exacta
daquele fumo sair
da chaminé?
sabes que a erva cresce
e a noite amanhece
quando o sol
velho e cansado
se põe calado
e ainda assim
está de pé?
sabes que há flores mortas
e a vida demora
e acontece
sem sequer saber quem é?
sabes das horas certas?

e das horas tortas?
...sabes,josé?



cruz mendes

 
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Alexis
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/08/2010 14:40  Atualizado: 19/08/2010 16:36
 Re: morte certa,hora incerta
E o poeta Drummond acrescenta:

"Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?"

E agora,José - Carlos Drummond de Andrade

Cara Alexis,
O que é maravilhoso na boa poesia, sua permanente interlocução com outros grandes textos. Critério meu da qualidade poética do que leio, o alcance intertextual, como o que acabo de ler.
Grata por me proporcionar isso.
Beijo,
Sandra.


Enviado por Tópico
anakosby
Publicado: 19/08/2010 15:34  Atualizado: 19/08/2010 15:34
Colaborador
Usuário desde: 12/04/2010
Localidade: Torres
Mensagens: 1739
 Re: morte certa,hora incerta
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

(...)

Adoro este texto, grata por ter levado-me lá!
BEIJO,
GOSTO SOBRETUDO DA MUSICALIDADE QUE ESCREVES.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/08/2010 17:09  Atualizado: 19/08/2010 17:09
 Re: morte certa,hora incerta
quando se tem mais idade do que tempo, é confortável ler um poema na hora certa, como este, mesmo não se chamando José. cumprimentos a poetisa.

um beijo e afetuoso abraço, Alexandra.

José


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/08/2010 21:34  Atualizado: 19/08/2010 21:34
 Re: morte certa,hora incerta
E agora José????
Meu José, teu José, de Drumond, josé de tanta gente!!!

Belissimo!!!
beijokas Poeta!


Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 19/08/2010 22:05  Atualizado: 19/08/2010 22:05
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Mensagens: 7283
 Re: morte certa,hora incerta
Queria não saber, mas muitas vezes sei... Belo, belo Alex.

Bj


Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 20/08/2010 10:10  Atualizado: 20/08/2010 10:10
Membro de honra
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Localidade: Porto
Mensagens: 2999
 Re: morte certa,hora incerta
Sei. Ser josé é saber isso, visceralmente, mas ir bebendo da vida, para esquecer...

Beijinho, Alex, estou por aqui...