Quero
Autor : Carlos Henrique Rangel
Não quero te ver
Construindo
Castelos monstruosos
Onde haviam casarios
De adobe.
Não,
Não quero ver
Ao entardecer
Os bancos
Vazios enfrente
As casas
Sem causos
Sem prosas.
Não quero ver
As imagens
Carcomidas
Ignoradas
Maltratadas
Mutiladas
Sumidas...
Os templos
De pisos vulgares
De gosto duvido
E paredes lisas...
Não,
Não agüento
Ver
O chão de asfalto
Cobrindo o passado
De pedras
As roupas
Balançando
Nos telheiros
Agressivos.
Os gigantes letreiros
Escondendo
Platibandas...
Quero você
Após a missa.
A procissão
Da santa moça.
O chacoalhar
Do congado.
A folha de guilhotina
Levantada no sobrado.
Quero o padeiro
Gritando seu
Pão
A viola e sua
Canção.
A feira de domingo
E as carroças
Coloridas.
Quero a paz
Sonolenta
Da praça
E seus pássaros.
Quero nadar no rio...
A gente pequena
Saindo da escola...
Os bons dias
Os boas tardes e noites...
O caminhar
Sem medo.
Quero
Dona Maroca
João da Zezé
Maria do Morro
Pedro Banguela
E outros...
Quero
A hora do anjos
O menino da
Porteira
O apito do trem.
Não,
Não quero
Congelar
O mundo
Ou viver
Do passado.
Eu só quero o continuar
Tranqüilo
De tempos quase
Iguais.
O meu pequeno
Grande mundo
Complementando
O globo
Em sua singularidade.
Quero apenas
Ser igual
Na diferença.
Ser feliz
Na diversidade.
É isso que quero...