Gosto desse nome VENTO.
E o temo.
Gosto quando sopra manso, trazendo todos os aromas.
Bons e ruins.
Doce como mel. Amargo como fel.
Quando traz lembranças dos bons augúrios e também as tristezas das mazelas.
Quanto se espalha pelos campos, deitando os lírios, despencando as flores das laranjeiras, colhidas então pelas madalenas, para acalmar seus homens dos infortúnios e desvarios.
Quando balanga os cabelos da moça bonita e levanta sua saia e a deixa rubra desnudando seu pudor, incitando os moços que as arrastam para debaixo das mangueiras e cometem o pecado dos inocentes.
Quando se infiltra pelos vales e assovia no bambuzal, envergando eucaliptos desfloridos e insolentes, jogando suas flores no tempo, para servir as benzedeiras.
E penetra pelos guetos, levando a fé dos pobres, mas não leva a perseverança e nem tira o brilho dos olhos do menino triste, sentado na calçada esperando um trocado.
E o temo na sua pujança, na sua ira, que arranca das entranhas da terra até as raízes da figueira sombreira, guardadora dos ninhos dos sabiás que cantam para mim nos finais de tarde, trazendo aventurança na melancolia do seu canto.
Temo-o quanto irrita o mar, que se alvoraça, que se ergue e corre em direção a praia, invadindo a areia branca e machucando as palmeiras onde é tão bom sossegar na sua sombra
Mas gosto do vento mesmo assim.
A madrugada finda, venta la fora na noite escura e eu aqui atento aos seus rumores. Se o dia demora, vou adormecer sonhando que ele é manso, quase brisa só, e que trará meu bem de volta, para amanhecer comigo.
E ficará sim o dia inteiro, deitada no meu peito escutando meus versos a falar do vento e da ventania que se faz na minha vida, quando ela se vai igual o pássaro dourado, que sabia a menina ser dela, mas que vivia solto no mundo e que preso não voltaria jamais.
Temo o vento sim, pelos seus rompantes quando se enerva. Mas o desejo sim, para trazer minha amada para passear assim em meu colo todos os dias.